Quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Mercado prevê taxa básica de juros sem alteração no Brasil até o fim deste ano

O comunicado da reunião desta semana do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve a taxa Selic em 10,5%, gerou avaliações distintas no mercado financeiro brasileiro. Enquanto parte dos agentes avaliou o tom da comunicação como mais austera (hawkish, no jargão do mercado) do que o anterior, alguns analistas aguardavam um posicionamento mais duro por parte do comitê, dada a deterioração das expectativas de inflação nos últimos meses e a pressão sobre o câmbio.

Ainda assim, o cenário não alterou a mediana das expectativas para o nível da Selic para este ano (10,5%) e 2025 (9,5%). A maioria das casas (24 de 41 instituições consultadas, ou 58,5%) vê o juro inalterado até dezembro deste ano e retomada do afrouxamento monetário em algum momento de 2025. A economista para Brasil do BNP Paribas, Laiz Carvalho, avalia que o BC optou por uma estratégia de “falar menos” no comunicado da última reunião para não se comprometer com movimentos futuros.

Para o ano que vem, a expectativa do BNP é de retomada do afrouxamento monetário, com a Selic encerrando no próximo ano em 9,50% e nesse nível dentro do horizonte relevante, no primeiro trimestre de 2026. Laiz diz, porém, que o retorno do ciclo de queda da Selic deve acontecer mais próximo do meio do que do início de 2025.

Já o economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, por outro lado, prevê que a Selic deverá ficar parada no atual nível até o fim de 2025. Sichel cita que o prognóstico está condizente com um ambiente de atividade doméstica resiliente, expectativas de inflação acima da meta e a avaliação do BC de que o juro em 10,5% ainda é restritivo.

Para ele, porém, é importante analisar como se dará o ciclo de afrouxamento monetário nos Estados Unidos, à medida que a retomada do ciclo de queda no juro americano se aproxima.

“Uma coisa é o Fed (Federal Reserve, o BC americano) cortar juro porque quer, outra coisa é cortar se precisa”, diz o economista, citando a possibilidade de a economia dos Estados Unidos desacelerar além do esperado.

Este cenário em que o juro americano precisa cair mais rapidamente que o previsto hoje pelo mercado tende, na avaliação de Sichel, a interferir na função do Banco Central. Ele aponta que uma economia dos Estados Unidos que desacelera mais fortemente pode, por um lado, trazer riscos também para a atividade doméstica.

Embora ainda não esteja no cenário-base da maioria das casas, uma possível alta nos juros ainda neste ano está no radar de parte dos analistas.

Enquanto o economista-chefe para Brasil do Barclays, Roberto Secemski, acredita que há uma chance de 30% de haver elevação do juro básico em 2024, dada a “persistente fraqueza” da cotação do real em um ambiente de incertezas fiscais “remanescentes”.

O UBS BB também vê uma possibilidade de 30% de alta na Selic, mas já na próxima reunião do Copom, em setembro, como efeito do fator cambial e, principalmente, de um fiscal “aquém das expectativas” do mercado.

 

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