Sexta-feira, 18 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 27 de setembro de 2022
A vitória da coalizão de partidos de direita na Itália já repercute sobre o setor de telecomunicações no Brasil. Isso porque o partido Irmãos da Itália, líder da coalizão, quer que o grupo Telecom Italia se movimente para vender a TIM Brasil como forma de capitalizar a companhia por lá. Essa possibilidade entrou de vez no radar de investidores.
As ações da Telecom Italia chegaram a subir mais de 7% e fecharam o dia em alta de 2,61%, desempenho acima do índice da bolsa italiana (FTSE MIB), que andou 0,67%. Analistas do mercado atribuíram a subida das ações aos rumores sobre uma eventual venda da unidade brasileira.
As eleições no país europeu selaram a vitória da coalizão de três partidos: Irmãos da Itália, da representante da extrema direita Giorgia Meloni; Liga, de Matteo Salvini; e da Força Itália, do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi. O partido Irmãos da Itália fala em fechar o capital e retirar a Telecom Italia da Bolsa, em um movimento que, se confirmado, tem um certo viés populista.
A Telecom Italia é uma gigante na economia italiana e tem peso simbólico por lá. A empresa é controlada pela francesa Vivendi (23,8%), mas o governo italiano segue no quadro de acionistas por meio do banco estatal Cassa Depositi e Prestiti, ou CDP (9,8%). A tele está passando por um duro processo de reestruturação que prevê a demissão de 9 mil dos 42,5 mil funcionários e a venda de ativos na tentativa de enxugar a dívida total do grupo, de 22 bilhões de euros. Nesse sentido, a venda da TIM Brasil seria uma forma de capitalizar o grupo e dar um rumo diferente aos negócios, evitando as demissões em massa.
Por ora, não há nada oficializado nem pelo novo governo, nem pela empresa. No domingo (25), o jornal Verita & Affari, de Milão, publicou uma reportagem mencionando que a própria Vivendi já estaria inclinada a aceitar a venda da TIM Brasil, com a expectativa de levantar entre 5 bilhões e 6 bilhões de euros na transação. Na B3, a TIM Brasil tem o valor de mercado na faixa de R$ 29,5 bilhões. A responsabilidade de sondar interessados ficou a cargo do presidente da Telecom Italia e ex-presidente da TIM Brasil, Pietro Labriola, segundo a reportagem.
Para que o negócio avance, certamente será preciso garantir que o mercado brasileiro não aprofunde sua concentração, apurou a Coluna. Isso porque sobraram apenas três grandes operadoras de amplitude nacional após o fatiamento das redes móveis da Oi entre TIM, Vivo e Claro – negócio aprovado após uma votação apertada (4 a 3) no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Portanto, Vivo e Claro dificilmente seriam a primeira opção da fila para se negociar uma oferta porque haveria muita dificuldade de receberem aval do órgão antistrute. O mais lógico seria buscar um terceiro operador, um fundo de investimentos ou até mesmo um conjunto de compradores capazes de arcar com um cheque dessa magnitude.
O que existe de concreto até aqui é o plano de reestruturação da Telecom Italia apresentado por Labriola no começo do semestre. Ele prevê a separação de ativos do grupo em dois braços de negócios, sendo um de infraestrutura e outro de serviços. O braço de infraestrutura (NetCo) englobará as redes de fibra ótica e prevê a atração de um sócio. Aos olhos da ala nacionalista italiana, esse é um ativo estratégico para garantir a soberania do país em telecomunicações e não poderia ser alienado.
O outro braço de negócios abrangerá todos os serviços fixos e móveis no varejo (ServiceCo). É aí que ficará a TIM Brasil. Na ocasião, o grupo publicou um comunicado informando que o plano de reestruturação não implicava em quaisquer modificações de “escopo, estratégia e gestão” para a unidade brasileira. Com um novo cenário político na Itália, resta saber se esse posicionamento vai durar.