Domingo, 22 de junho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 21 de junho de 2025
O real sustenta uma valorização surpreendente neste ano, com o dólar em queda de 10,60%, após encerrar a semana cotado a R$ 5,5248. No início de 2025, quando a moeda americana ainda superava os R$ 6, poucas instituições apostavam em uma apreciação tão intensa do câmbio doméstico. Agora, com o dólar pressionado em nível global e o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos ainda mais favorável, o mercado projeta que a taxa de câmbio deve continuar em nível mais valorizado, embora movimentos adicionais mais expressivos pareçam mais limitados no momento.
Com o tom duro adotado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central ao elevar a Selic para 15%, a expectativa majoritária nos mercados era de que o real poderia se apreciar ainda mais, o que aconteceu no início da sessão de sexta-feira (20), mas não se manteve, e o dólar terminou em alta. Na visão do trader da tesouraria de um grande banco, porém, isso se deve mais a uma questão técnica de busca por “hedge” (proteção) antes do fim de semana devido às tensões no Oriente Médio e não deve alterar a expectativa de que o câmbio doméstico se mantenha mais valorizado.
Ao longo da semana, algumas instituições financeiras continuaram a sustentar uma visão mais positiva com o real, ao menos no curto prazo. Com argumentos que incluem a “postura disciplinada” do Banco Central, a perspectiva de um cenário fiscal “que avança aos trancos e barrancos”, um nível elevado de diferencial de juros (carry) mesmo quando ajustado pela volatilidade e “valuations” ainda baratos, o Société Générale se destaca por ser um dos players mais otimistas e por ver espaço para que a taxa de câmbio doméstica se valorize ainda mais.
O banco francês, inclusive, adota um dos cenários mais otimistas do mercado com a moeda brasileira ao projetar, em seu cenário-base, o dólar a R$ 5,20 no fim deste ano, com chance de cair para R$ 5,00 no primeiro trimestre de 2026.
A aposta ousada contempla um dólar globalmente mais fraco, queda nas taxas dos Treasuries de curto prazo e a continuidade do processo de diversificação de ativos no cenário global, de acordo com o estrategista sênior do Société Générale para América Latina, Bertrand Delgado, que, no entanto, não tem recomendações abertas para posições nos ativos brasileiros no momento.
Para ele, “a postura disciplinada do Copom, a atividade econômica saudável e a melhora no apetite por risco devem impulsionar o real”.
Quanto ao risco fiscal, Delgado avalia que essa é a principal preocupação dos mercados, mas prevê um “cenário de marcha lenta”, em que não haverá um agravamento por parte do governo, já que políticas vistas como irresponsáveis seriam limitadas pelo Congresso.
No caso do Bank of America, que revisou recentemente a projeção para o dólar no fim do ano para R$ 5,50, há uma recomendação aberta para posições vendidas em dólar contra o real, ou seja, que ganham com a queda da moeda americana. Como justificativa, os estrategistas do BofA argumentam que, quando abriram a posição (dólar a R$ 5,68), a moeda brasileira estava 20% desvalorizada em termos reais, o que representa o maior “gap” em termos de “valuation” entre as moedas da América Latina. Eles, inclusive, têm como alvo (“target”) da posição o dólar a R$ 5,00.
A fraqueza global da moeda americana ajuda a explicar o bom desempenho do câmbio brasileiro. No ano, o índice DXY, que mede a cotação do dólar em relação a uma cesta de outras seis divisas fortes, exibe queda de 8,95%. E, entre os mercados emergentes, o real se destaca ao ser apoiado pelo diferencial de juros e por medidas adotadas pelo Banco Central desde o início do ano, que tentam reduzir distorções no mercado de câmbio e potencializar o efeito da Selic alta, como mostrou o Valor no início da semana.
O diferencial de juros elevado, assim, deve continuar a apoiar operações de “carry trade”, como aponta a estrategista Teresa Alves, do Goldman Sachs, para quem o real pode continuar a exibir um desempenho superior ao de outras moedas de mercados emergentes.
“Em meio a expectativas divididas, o Copom elevou a taxa básica de juros para 15% em uma decisão unânime sinalizou que os juros permanecerão altos por um ‘período bastante prolongado’. Essa postura firmemente ‘hawkish’ [dura] e o foco em manter os juros reais elevados devem continuar a sustentar os retornos totais do real, reforçando sua posição como o favorito para o ‘carry trade’ entre as moedas emergentes”, diz a estrategista em nota
enviada a clientes. As informações são do portal Valor Econômico.