Domingo, 27 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 27 de julho de 2025
Impedido de deixar Brasília por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro vê a mulher, Michelle, ganhar protagonismo ao intensificar conversas de bastidores para fortalecer seu grupo político. Sem alarde, ela passou a ocupar espaços, discursar em nome do ex-presidente e comandar a interlocução com lideranças partidárias, religiosas e conservadoras.
Na sexta-feira, por exemplo, enquanto Bolsonaro se mantinha recluso em casa para evitar descumprir as ordens de Moraes, Michelle esteve na Paraíba.
“Todos nós, sob a liderança do presidente Bolsonaro, que está parcialmente impedido de exercer sua liderança em toda sua plenitude, iremos nos guiar por Michelle Bolsonaro, que é uma figura excepcional”, disse o ex-ministro Marcelo Queiroga, presidente estadual do PL.
Desde que Bolsonaro foi proibido de deixar Brasília, Michelle passou a assumir viagens que seriam dele, como a prevista para Rondônia em agosto, e intensificou postagens nas redes sociais em nome do casal. O resultado foi imediato: após a operação da Polícia Federal na sede do PL e na casa de Bolsonaro, em 18 de julho, ela ganhou 138 mil seguidores no Instagram.
Além da exposição pública, Michelle reforçou a segurança ao redor do ex-presidente. Seu irmão de criação, Eduardo Torres, tem acompanhado Bolsonaro em todas as saídas. Interlocutores próximos dizem que a escolha tem como motivação manter uma pessoa de confiança por perto.
Embora evite citar seu futuro político em discursos públicos, Michelle tem adotado um tom messiânico nos bastidores. Em reuniões fechadas com aliados, ela se coloca como “voz profética” de um novo tempo. Afirma que “a batalha é contra o sistema” e que “Deus a levantou para essa hora”.
A atuação ativa dos últimos meses contrasta com a postura que a ex-primeira-dama teve até então. Na campanha de 2018, exerceu um papel discreto, focado em pautas como inclusão de pessoas com deficiência e doenças raras. Mesmo no governo, mantinha-se fora do foco, limitando suas aparições a eventos religiosos e institucionais.
O ponto de virada veio em julho de 2022, quando discursou na convenção do PL no Rio de Janeiro. A performance empolgou a militância e fez acender, dentro da legenda, a percepção de que ali havia um ativo eleitoral em potencial.
Após a derrota de Bolsonaro em 2022, esse capital político foi aproveitado. Na presidência do PL Mulher, Michelle percorreu o país e ajudou a sigla a ampliar sua base, especialmente entre candidatas evangélicas. Ao mesmo tempo, intensificou a articulação com pastores, cantoras gospel e influenciadoras cristãs. Na semana passada, esteve em reunião reservada com Valdemar Costa Neto na sede do PL, um gesto que, para aliados, simboliza sua ascensão à cúpula partidária.
“Eu vou conversar com ela. A gente não vinha discutindo política por aí, mas é uma pessoa séria e de confiança”, declarou Bolsonaro recentemente, ao ser questionado sobre o protagonismo da esposa.
Embora esteja consolidando apoio interno no partido, Michelle ainda enfrenta resistências dentro da própria casa. A relação com dois dos quatro filhos do ex-presidente — Carlos Bolsonaro e Jair Renan — sempre foi marcada por tensão. Por anos, Carlos a chamava de Xuxa, em tom pejorativo, nos bastidores, insinuando que ela buscava os holofotes.
Segundo aliados, no entanto, o distanciamento entre os dois começou a diminuir neste ano, durante uma internação de Bolsonaro. Michelle assumiu os cuidados do marido, o que teria comovido Carlos. Ainda assim, há incômodo no clã sobre o espaço que ela vem conquistando.
O pastor Silas Malafaia, aliado histórico da família, vocaliza parte dessa resistência:
“Tem várias vozes que falam por ele, mas não uma única pessoa. Ele não está preso, não está mudo. Uma pessoa só vai representar o quê?”, indagou.
Para integrantes do PL, contudo, Michelle é hoje o elo mais eficaz com dois pilares centrais do bolsonarismo: o eleitorado evangélico e o público feminino conservador. Nos bastidores, cresce a avaliação que, caso Bolsonaro permaneça inelegível, ela deva ser considerada para integrar uma chapa majoritária em 2026.
(Com informações do jornal O Globo)