Quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Ministério da Fazenda “não vê com bons olhos” ajuda aos Correios com dinheiro do Tesouro Nacional

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, afirmou que o governo não “vê com bons olhos” a possibilidade de aportes diretos do Tesouro Nacional para socorrer financeiramente os Correios. A estatal acumula prejuízos bilionários diante do aumento das despesas e da queda das receitas.

“O Ministério da Fazenda, com a preocupação de ter empresa pública hígida, está disposto a ajudar. Mas não há nenhum encaminhamento sobre aporte do Tesouro Nacional”, disse Durigan, em entrevista coletiva sobre o Relatório Bimestral, que detalha previsões de receitas e despesas do Executivo.

Durigan destacou que o governo trabalha em duas linhas para tentar estancar as perdas. A primeira foi a troca no comando da estatal: na semana passada, o Conselho de Administração aprovou o nome do economista Emmanoel Schmidt Rondon para a presidência da empresa. A posse deve ocorrer ainda nesta semana.

Em paralelo, está em elaboração um plano emergencial para ser iniciado ainda em 2025, além de uma estratégia de médio e longo prazo. Segundo Durigan, banqueiros cobraram do governo prioridade no enfrentamento da crise durante reunião recente. “O governo tem interesse em dar suporte”, afirmou o secretário, relatando que ouviu apelos para que a estatal não fique “à deriva”.

O tema mais urgente neste momento é a renegociação de um empréstimo de R$ 1,8 bilhão contratado pelos Correios neste ano junto a um sindicato de bancos formado por BTG Pactual, Citibank e ABC Brasil. O objetivo da operação era dar fôlego ao caixa já debilitado da empresa.

O pagamento foi programado em seis parcelas mensais a partir de junho de 2026, mas o contrato possui cláusulas restritivas (chamadas de covenants) cujo descumprimento pode disparar a cobrança antecipada dos valores —entre elas, uma relacionada à ocorrência de eventos com impactos jurídicos ou judiciais.

Segundo três pessoas a par da situação da empresa, o forte aumento do custo com sentenças judiciais registrado no segundo trimestre de 2025 criou as condições para que a cláusula seja acionada. Isso criaria uma situação dramática para os Correios, pois o contrato autoriza os bancos a reterem valores que a empresa tem a receber. No limite, a companhia poderia ficar sem dinheiro em caixa para honrar obrigações correntes.

Dada a gravidade da situação, Durigan se reuniu na última terça-feira (16) com representantes do BTG Pactual e do Citibank, os dois bancos que lideram a operação, para discutir uma renegociação do contrato.

“Tive uma reunião com CEO de Citibank e do BTG. Os bancos apresentaram preocupação com a deterioração da situação financeira dos Correios, e o que eu disse é que o governo tem compromisso em dar todo o suporte necessário aos Correios, a começar pela troca pela diretoria e desenhar um plano de ação que seja consistente com esse desafio”, afirmou o secretário.

Os Correios registraram prejuízo de R$ 4,3 bilhões no primeiro semestre de 2025, três vezes maior que o de igual período de 2024. O rombo foi agravado no segundo trimestre, quando as perdas chegaram a R$ 2,6 bilhões — quase cinco vezes o registrado entre abril e junho do ano passado (R$ 553,1 milhões).

No primeiro trimestre, o resultado já havia sido negativo em R$ 1,7 bilhão, o pior início de ano desde 2017.

Entre janeiro e junho, a estatal acumulou R$ 3,4 bilhões em despesas administrativas, que incluem gastos com pessoal e precatórios. O montante representa alta de 74% em relação ao mesmo período de 2024. Parte do aumento se deve ao reajuste salarial concedido a mais de 55 mil funcionários e ao crescimento das dívidas judiciais.

 

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Brasil

Conselho Federal de Medicina quer revogar autorização para enfermeiros prescreverem antibióticos
Ícone do tênis de mesa brasileiro, Hugo Hoyama sofre infarto e passa por cirurgia
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play