Sábado, 12 de julho de 2025

Montadoras divergem sobre o retorno de veículos mais baratos, como quer o governo

O retorno ao mercado brasileiro do chamado carro popular entrou na agenda do governo e, nas últimas semanas, tem sido citado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para algumas montadoras e concessionários, o tema é visto com certa urgência em um momento de queda de vendas, fábricas suspendendo a produção e sindicatos de trabalhadores temendo demissões. Especialistas, porém, dizem que a medida é inviável em razão da carga de impostos e da complexidade de mudança nas linhas de produção.

O tema de um novo carro popular foi levado ao Ministério do Desenvolvimento (Mdic) no mês passado pela Fenabrave, a associação dos revendedores de veículos.

O governo trabalha com preços na casa dos R$ 45 mil a R$ 50 mil para um carro pequeno, simples e sem alguns itens tecnológicos. Hoje, os dois modelos mais baratos à venda no País são o Fiat Mobi e o Renault Kwid, ambos por R$ 69 mil.

Impostos

O consultor da S&P Global Brasil, Fernando Trujillo, avalia que o valor até R$ 50 mil “só seria viável se o governo cortasse imposto”, o que, na atual situação fiscal do País, dificilmente deve ocorrer. Entre propostas em discussão está a retirada de alguns itens de segurança ou tecnológicos – medida que ele também acredita ser de difícil aceitação, por causa das normas de segurança e de emissão em vigor.

Na avaliação de Cássio Pagliarini, da Bright Consulting, nenhuma mudança de conteúdo fará o preço “despencar R$ 20 mil”. Ele cita, por exemplo, ser possível simplificar acabamentos, frisos, pintura de para-choque, calotas e usar pneus mais finos, “mesmo assim não chegaria lá”.

O retorno do carro popular não é consenso entre as associadas da Anfavea, a associação das montadoras. Para o presidente da General Motors, Santiago Chamorro, o melhor é criar condições mais favoráveis de crédito para o consumidor ter condições de comprar carros de entrada já disponíveis. “Se perguntarmos para o brasileiro se ele quer um carro menor, menos tecnológico, certamente a resposta será não”, afirmou Chamorro.

Mário de Lima Leite, presidente da Anfavea, disse que o tema não está sendo conduzido pela entidade, pois a discussão está muito voltada ao preço dos carros – tema que cabe a cada associada e à Fenabrave, que reúne as redes de concessionárias. Afirmou, porém, que “tudo que for para aquecer o mercado e que tenha como foco a questão ambiental e de segurança é bem-vindo”.

Segundo ele, a discussão está em fase de coleta de dados e o governo solicitou à Anfavea no fim de semana mais dados, que foram entregues. Leite disse também que há outras medidas em debate que poderiam afetar o mercado como um todo, e não apenas o de veículos de entrada, como o uso de parte do FGTS para a compra do carro novo. Ponderou ainda que “o crescimento do mercado não vai acontecer se não houver uma redução da taxa de juros”.

O presidente da Fenabrave, José Andreta Júnior, afirmou recentemente que a oferta de carros mais baratos ajudaria o setor a ter escala para produzir mais, sem reduzir a rentabilidade, o que evitaria demissões. A entidade também está abastecendo o governo com informações de seu banco de dados.

Apoio

A proposta levada ao governo, porém, tem apoio de algumas montadoras, como a Stellantis, dona das marcas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën – grupo que detém 32,5% das vendas totais de automóveis e comerciais leves no País. O presidente da companhia, Antonio Filosa, ressaltou recentemente ser necessário, primeiro, definir o conceito de carro popular pois, com as atuais exigências de segurança e emissões, não é possível ter um produto na faixa de preço em análise.

Para ele, seria um carro pequeno, mais simples, com menos equipamentos, mas sem prejudicar os níveis de segurança. É possível, disse ele, definir quais seriam os itens essenciais, além de baratear o crédito e impostos. Ele citou, por exemplo, que todos os carros 1.0 pagam Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido, inclusive modelos com motor turbo.

Já o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC defende, em documento entregue ao presidente Lula na semana passada, estímulo ao lançamento imediato de modelos populares, com patamares reduzidos de preços e linhas de crédito de 60 a 72 meses desenhadas com esse foco.

Queixa

Na semana passada, em discurso em Brasília, Lula criticou o preço dos automóveis no País. “Qual pobre pode comprar carro popular por R$ 90 mil?”, questionou. Ele citou ainda que seu governo vai “fazer carros a preços mais compatíveis e aumentar as prestações”.

No seu segundo mandado, de 2007 a 2010, Lula reduziu impostos para carros e, com inflação e juros favoráveis, muitos brasileiros tiveram acesso ao primeiro carro zero pagando prestações ao longo de seis anos.

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