Quinta-feira, 02 de outubro de 2025

“Navio fantasma” que naufragou há mais de 100 anos é encontrado

O navio F. J. King, que naufragou há mais de um século e se tornou alvo de mistérios e lendas, foi finalmente localizado no fundo do Lago Michigan, nos Estados Unidos. O anúncio da descoberta foi feito pela Associação de Arqueologia Subaquática de Wisconsin e encerra uma busca que mobilizou mergulhadores, historiadores e curiosos durante décadas.

Construída em 1867 em Manitowoc, Wisconsin, a escuna de três mastros foi projetada especialmente para o comércio de grãos, carvão e minérios, atividades que, na segunda metade do século XIX, eram fundamentais para a economia da região dos Grandes Lagos. O F. J. King tinha casco de madeira reforçado e era considerado uma embarcação moderna para a época, capaz de transportar grandes cargas em longas distâncias. Em 15 de setembro de 1886, enquanto realizava o trajeto entre Escanaba, em Michigan, e Chicago, em Illinois, carregando minério de ferro, o navio enfrentou uma forte tempestade próxima ao Porto de Baileys Harbor.

Segundo a associação, rajadas de vento intensas e ondas que chegaram a três metros de altura provocaram infiltrações rápidas. As bombas de escoamento não suportaram o volume de água e a tripulação, percebendo a iminência do naufrágio, abandonou a embarcação. Os marinheiros foram resgatados por outra escuna que navegava na região, mas o F. J. King desapareceu nas profundezas do lago sem deixar vestígios.

Desde então, o paradeiro do navio se transformou em uma incógnita. Histórias se espalharam entre pescadores, que alegavam que suas redes ficavam presas em destroços invisíveis, e relatos orais passaram a sustentar a ideia de que a embarcação se tornara um “navio fantasma”. A curiosidade era tamanha que o clube de mergulho Neptune’s Dive Club chegou a oferecer uma recompensa de US$ 1 mil para quem localizasse o casco perdido — valor considerável para a época.

Após mais de cem anos de buscas sem sucesso, uma equipe liderada pelo pesquisador Brendon Baillod decidiu revisitar as pistas disponíveis. O grupo recorreu a jornais da década de 1880 e encontrou uma entrevista com um faroleiro que dizia ter visto a escuna afundar. A informação foi cruzada com registros de navegação e mapas náuticos, estreitando a área provável do naufrágio.

No dia 28 de junho deste ano, a equipe utilizou um sonar de varredura lateral para examinar o fundo do lago. Em apenas duas horas de operação, o equipamento revelou a imagem de um navio surpreendentemente preservado. “Estávamos incrédulos”, disse Baillod. “Parecia que o tempo tinha congelado. Estávamos olhando para uma escuna praticamente intacta, deitada silenciosamente no fundo.”

As imagens mostraram que a parte dianteira estava amassada pelo impacto, e o convés apresentava rupturas, mas muitos detalhes permaneciam notavelmente preservados. As âncoras de madeira ainda estavam penduradas nas laterais, as manivelas do leme permaneciam no lugar e utensílios usados pela tripulação, como pratos e talheres, podiam ser identificados entre os destroços.

Para os arqueólogos, a descoberta do F. J. King tem importância não apenas histórica, mas também cultural. O navio se soma a um conjunto de mais de 700 embarcações naufragadas conhecidas no Lago Michigan, transformando a região em um verdadeiro museu subaquático. Muitos desses naufrágios, protegidos pelo gelo e pela água doce, apresentam estado de conservação raro no mundo, oferecendo uma janela quase intacta para o cotidiano marítimo do século XIX.

A equipe pretende agora documentar a escuna em detalhes, por meio de mergulhos controlados e fotografias em 3D, para preservar digitalmente sua memória. Embora o local do naufrágio seja mantido em sigilo para evitar saques ou danos, há planos para que, no futuro, mergulhadores credenciados possam visitar o ponto, reforçando o turismo histórico e científico na região.

 

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