Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 1 de março de 2024
Em encontro bilateral realizado, nessa sexta-feira (1º), paralelamente à 8° Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), em São Vicente e Granadinas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ouviu do líder venezulano Nicolás Maduro que haverá eleições em seu país no segundo semestre deste ano.
Com isso, o venezuelano confirma que cumprirá essa parte do acordo firmado ano passado com a oposição, mas ainda há vários poréns sobre a mesa.
Maduro foi quem levantou o tema das eleições, segundo destacaram integrantes do governo brasileiro, mencionando o acordo com a oposição.
O governo brasileiro está preocupado com a situação na Venezuela. Existe, no Palácio do Planalto e no Itamaraty, a percepção de que as últimos acontecimentos no país vizinho, como a prisão e a inelegibilidade de adversários políticos de Maduro, mostram que um acordo firmado entre o governo venezuelano e a oposição não está sendo cumprido.
O exemplo mais lembrado por chancelarias e analistas no exterior é o de Maria Corina Machado: principal nome da oposição, ela venceu primárias realizadas no ano passado por ampla margem, mesmo depois de ser inabilitada por 15 anos, assim como outros líderes contrários a Maduro, como o ex-candidato à Presidência, Henrique Capriles.
Pelo acordo firmado em Barbados, no fim do ano passado, entre governo e oposição, existe a obrigação da realização de eleições livres, justas e transparentes, sendo esse um dos passos importantes para outras medidas, como a retirada de sanções impostas pelos EUA.
Diante do aparente recuo de Caracas, e das incertezas sobre quando e como ocorrerá a votação, os EUA já começaram a retomar algumas das sanções derrubadas — no mês passado, a Agência de Controle de Ativos Estrangeiros dos EUA (OFAC) anunciou medidas contra a empresa estatal do setor de mineração, a Minerven, restringindo operações envolvendo empresas americanas.
O assunto foi discutido, na semana passada em Brasília, em uma reunião entre Lula e o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, que esteve no país para participar do encontro de chanceleres do G20.
Ao menos uma das questões sobre a votação, a data, parece estar perto (ou menos distante) de ser resolvida: na quarta-feira (6), após 15 dias de discussões, o Parlamento venezuelano vai propor às autoridades eleitorais 27 datas no segundo semestre para a votação.
Yanomamis
De acordo com integrantes do governo brasileiro, outros temas além da situação política no país foram tratados na conversa entre os dois presidentes. Lula e Maduro discutiram, por exemplo, o combate conjunto aos garimpeiros ilegais em áreas yanomamis nos dois países.
Maduro também destacou que a economia venezuelana está melhorando, com a redução da inflação e o crescimento. O presidente da Venezuela e Lula teriam discutido, ainda, a dívida do país com o Brasil, estimada em mais de US$ 2 bilhões, para que permitir maiores trocas bilaterais no comércio de bens e serviços.
A crise entre a Guiana e a Venezuela, por causa da disputa por Maduro pela região de Essequibo, rica em petróleo e em território guianês, não foi tratada no encontro. Foi o que afirmou Lula, na última quinta (29). Ele, que se reuniu, dois dias antes, com o presidente da Guiana, Irfaan Ali, à margem de um encontro de líderes caribenhos, naquele país, disse que o assunto não entrou na conversa.
Durante a reunião da Celac, Ali declarou querer a paz com a Venezuela.
“Queremos a paz, queremos prosperidade para os nossos vizinhos e para todos nesta região”, disse o presidente guianês. “Estou disposto a conversar com o presidente Maduro sobre qualquer aspecto que possa contribuir para melhorar a relação entre os nossos países.”
Ali e Maduro estiveram frente a frente em São Vicente e Granadinas, mas o ato foi mais simbólico do que uma conversa mais longa sobre as disputas entre as duas nações: o líder guianês entregou uma garrafa de rum e uma medalha de seu país ao venezuelano, que entregou em resposta uma caixa com produtos e seu país, concluindo a breve troca com um “paz e amor”, em inglês.