Quarta-feira, 19 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 19 de novembro de 2025
A chuva tropical, que tem sido uma constante em Belém durante a conferência, deu uma trégua nesta quarta-feira. Caiu pontualmente, mas de forma branda, como se respeitasse o ritmo das negociações que se intensificam rumo ao encerramento da COP30. Com o primeiro rascunho do documento final já sobre a mesa, cresce a expectativa de que os últimos dias tragam os consensos necessários para um pacto climático robusto e viável.
Esse documento final, que deverá ser assinado até sexta-feira, é mais do que uma formalidade diplomática. Trata-se de um marco político e técnico que orientará as ações climáticas globais nos próximos anos. O texto atual, proposto pela presidência brasileira da COP, aborda temas centrais como a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis, a ampliação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e, sobretudo, o financiamento climático — um ponto sensível que opõe países desenvolvidos e em desenvolvimento.
As NDCs, compromissos voluntários assumidos por cada país para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, estão no centro das discussões. A pressão é para que essas metas sejam revistas e ampliadas, com maior ambição e transparência.
Nesse contexto, a atuação de China e Estados Unidos — os dois maiores emissores do planeta — é decisiva. China sinalizou uma disposição para cooperar, mas ainda há desconfiança quanto à implementação real de suas promessas. A comunidade internacional observa com atenção se suas palavras se converterão em ações concretas.
Os eixos temáticos da COP30 continuam em debate, com destaque para justiça climática, transição energética justa, proteção da biodiversidade e financiamento climático. A pluralidade de vozes — de governos, cientistas, povos indígenas, juventudes e sociedade civil — tem enriquecido as discussões, embora também torne mais complexa a construção de consensos.
Um dos destaques desta edição é o chamado “Mutirão Global”, conceito que aparece no rascunho do documento final e que propõe uma mobilização coordenada entre países, setores econômicos e sociedade civil para acelerar a implementação das metas climáticas. A ideia é clara: não basta prometer, é preciso agir. E agir com urgência.
A presidência da COP30, liderada pelo embaixador André Corrêa do Lago, tem sido elogiada por sua capacidade de articulação e por abrir espaço para a participação da sociedade brasileira. A conferência, que antes parecia distante do cotidiano da população, agora está mais popularizada. Tornou-se pauta de conversas, de escolas a mercados, e isso é um avanço civilizatório.
Falando em mercados, aproveitei para caminhar bastante por Belém, inclusive pelas periferias, e tive o privilégio de almoçar peixe com açaí no tradicional mercado Ver o Peso. A biodiversidade da Amazônia é algo que não se descreve, se sente. O povo de Belém é abençoado por viver tão próximo dessa riqueza natural. A gastronomia local é única, e a hospitalidade é algo que vem do coração — espontânea, generosa, acolhedora.
Voltando à COP30, o que se espera agora é que o espírito de Belém — diverso, resiliente e vibrante — inspire os líderes mundiais a dar o passo que falta. Que o financiamento climático chegue às nações mais vulneráveis. Que a implementação das ações saia do papel. Que a humanidade, enfim, encontre seu caminho para recuperar o planeta.
* Renato Zimmermann é desenvolvedor de negócios sustentáveis e ativista da transição energética