Segunda-feira, 07 de julho de 2025

“Nós contra eles” vai melhorar a imagem do governo? Especialistas analisam

A exemplo da crise do mensalão em 2005, quando viveu seu momento mais difícil de popularidade e de relação com o Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem intensificando neste terceiro mandato o apelo ao discurso de “ricos contra pobres” e às críticas ao “andar de cima” da sociedade brasileira. O objetivo da comunicação do governo é associar a imagem do petista ao eleitorado de baixa renda, segmento que contribuiu para sua eleição em 2022, e usar pressão social para compensar impasses na articulação política.

Estrategistas políticos e marqueteiros ouvidos se dividem sobre a eficácia do discurso, caso se mantenha até as eleições de 2026. A ênfase nas desigualdades sociais ainda tem o poder de atrair a atenção de eleitores e mobilizar a militância petista, reconhecem. Mas duas década depois a mudança da imagem de Lula e de seu partido junto à população pode enfraquecer a mensagem, que tem de ser acompanhada de melhorias concretas na economia para funcionar, alerta uma parte deles.

Ao longo da última semana, Lula fez declarações defendendo uma nova alíquota de Imposto de Renda para pessoas com remuneração superior a R$ 50 mil e, em visita à Bahia, ergueu um cartaz pedindo “taxação dos super-ricos”. A medida, costurada pelo Ministério da Fazenda para abrir espaço à isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil, é aprovada por 76% dos eleitores, segundo pesquisa Datafolha de abril — entre os mais pobres, 78% são favoráveis.

— A ideia de justiça social continua mobilizando as camadas populares, mas se a narrativa não vier acompanhada de alívio concreto no bolso, pode gerar ressentimento nesse eleitorado. Quando o governo bate nos “ricos”, mas é percebido como um Estado que cobra muito e entrega pouco, ele começa a ser confundido com aquilo que critica — avalia Marcos Carvalho, diretor da AM4 e um dos marqueteiros da campanha digital de Bolsonaro em 2018.

Com a derrubada do decreto que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o PT e apoiadores passaram a mirar sua artilharia no Congresso. Vídeos e publicações nas redes sociais têm buscado colocar na conta sobretudo do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), os empecilhos a propostas que atendem à população de menor renda.

O discurso de antagonizar o Centrão aos eleitores mais pobres veio à tona também em uma declaração do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que questionou na semana passada se o Congresso teria interesse em “prejudicar a parcela mais pobre” do país. Haddad referia-se a um suposto risco de retaliação dos parlamentares, após o governo acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para manter o aumento de alíquota do IOF.

— Essa tentativa de enquadrar o Congresso, com a narrativa de que o Centrão não está ajudando o país, só se consolidará se o governo conseguir vender uma imagem de vítima à população. Lula já recorreu a esse papel em outras ocasiões. O problema é que não vejo sua imagem com a mesma credibilidade de outros tempos, há uma certa fadiga de material — afirma o marqueteiro Paulo Vasconcellos, que atuou na reeleição do governador do Rio, Cláudio Castro (PL), em 2022. As informações são do portal O Globo.

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