Segunda-feira, 18 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 17 de agosto de 2025
Pela primeira vez no Brasil, uma nova técnica de quimioterapia para câncer de pâncreas, ainda em estudos, mas com potencial para reduzir os efeitos colaterais da medicação, foi aplicada em uma paciente com a doença. O método, chamado de microperfusão isolada, tem como objetivo isolar a circulação arterial do órgão na área próxima do tumor para permitir que o quimioterápico seja aplicado de forma mais concentrada na lesão maligna, diminuindo, assim, as reações indesejadas do tratamento, entre elas fadiga, náuseas, queda de cabelo e outros danos a células saudáveis.
Em pesquisas clínicas que estão em andamento nos Estados Unidos cientistas também investigam se a aplicação do medicamento de forma mais concentrada do que na quimioterapia sistêmica aumentaria a efetividade do tratamento.
De acordo com Francisco Leonardo Galastri, radiologista intervencionista do Centro de Medicina Intervencionista do Einstein, a paciente brasileira submetida à técnica relatou redução dos efeitos colaterais e melhora da qualidade de vida.
Agressivo e silencioso
O câncer de pâncreas é conhecido por sua agressividade e baixa taxa de operabilidade. Por não manifestar sintomas em fases iniciais, a doença costuma ser diagnosticada em estágios mais avançados.
Segundo Galastri, somente 20% dos pacientes têm indicação cirúrgica no momento do diagnóstico. Outros 40% já apresentam metástases e, para eles, a quimioterapia sistêmica é a única alternativa.
Os 40% restantes têm doença localmente avançada, sem metástase a distância, mas com tumores que não podem ser operados. Esses pacientes costumam iniciar o tratamento com quimioterapia tradicional, na tentativa de que o tumor encolha o suficiente para permitir a cirurgia. Quando isso não acontece, resta apenas continuar o tratamento quimioterápico sistêmico, com efeitos colaterais muitas vezes limitantes. É para esse grupo que a técnica de microperfusão vem sendo testada.
Dose concentrada
Com isso, a concentração da droga nas células tumorais é menor do que a desejada e a químio sistêmica não costuma ter bons resultados. A aplicação experimental da dose concentrada tem como objetivo avaliar se, além de reduzir efeitos colaterais, a técnica é capaz de aumentar a eficácia da terapia.
Para a oncologista Maria Ignez Braghiroli, coordenadora do comitê de tumores gastrointestinais baixos da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), apesar de a técnica ser promissora, ainda é preciso esperar os resultados de mais estudos clínicos para saber o real benefício desse tipo de intervenção. “Os estudos finalizados tiveram poucos pacientes, então ainda precisamos de mais pesquisa para avaliar se realmente reduz efeitos colaterais para a maioria das pessoas tratadas”, diz.
Ela explica que técnicas de isolamento da circulação para aplicação de quimioterapia já são usadas para alguns casos de câncer de fígado e sarcomas (tumores ósseos ou em tecidos musculares). Para cânceres mais prevalentes, como o de mama, a médica não vê a possibilidade de uso da técnica de microperfusão porque, para esses casos, a quimioterapia sistêmica é a mais indicada, já que o objetivo é justamente “matar” eventuais células tumorais que tenham se espalhado para outras regiões do corpo, reduzindo, assim, o risco de metástases.
Técnica
De acordo com Galastri, o isolamento da circulação no pâncreas é feito com a inserção de um cateter especial com dois balões que são levados até a área do órgão a ser tratada. Após serem posicionados, os balões são inflados, isolando temporariamente a circulação na região tumoral. O quimioterápico, então, é infundido diretamente nesse espaço por meio de um terceiro canal do cateter, durante cerca de 20 a 40 minutos.
O procedimento realizado no Einstein, o primeiro hospital da América Latina a aplicar a técnica para câncer de pâncreas, segue o protocolo do estudo americano TigerPaC, um ensaio clínico de fase 3 em andamento. As análises preliminares indicam que a técnica aumenta a concentração da droga no tumor e reduz efeitos colaterais sistêmicos, embora ainda não haja dados conclusivos se ela é capaz também de aumentar a sobrevida.
O câncer de pâncreas é um dos tumores mais letais. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), quase 12 mil brasileiros morreram vítimas da doença em 2021. Embora seja responsável por cerca de 1% de todos os tipos de câncer diagnosticados, causa 5% dos óbitos por tumores. As informações são de O Estado de S. Paulo