Sábado, 12 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 12 de julho de 2025
Apesar da relação comercial entre Brasil e Estados Unidos não ser tão significativa como tempos atrás, ainda é importante e não pode ser minimizada por questões políticas. Quase ninguém acreditava que o Presidente Trump compraria desta forma a briga entre o Presidente Bolsonaro e o S.T.F. (Supremo Tribunal Federal). Fica cada vez mais claro que a alegada desvantagem comercial de muitos anos percebida pelos Estados Unidos (que tem saldo positivo na balança comercial entre os dois países) é apenas um dos elementos que originou este aumento absurdo nas tarifas.
Comercialmente falando tais tarifas são inaceitáveis e não encontram o menos respaldo econômico, não refletindo a boa relação entre os dois países até bem pouco tempo atrás. O Brasil era um dos menos “taxados” pela nova política tarifária dos Estados Unidos, parecia que tudo estava tranquilo e com o passar do tempo tudo se acomodaria com a maior economia do mundo. Enquanto China, Coreia, Japão, e a comunidade europeia procuravam adequar-se às novas regras impostas pelos Estados Unidos, salvo alguns sobressaltos, o Brasil caminhava com relativa estabilidade. Para a maioria dos analistas especializados Donald Trump não iria tão longe para mostrar seu descontentamento com as decisões do S.T.F., principalmente do Ministro Alexandre de Moraes, no que diz respeito ao controle das Big Techs e do processo criminal que Bolsonaro é réu.
A carta enviada ao Presidente Lula é bem clara e vai direto ao ponto, sem rodeios ou formalidades. A discussão não cinge-se ao fato de quem juridicamente está certo ou errado, ou de quem ultrapassou os limites da diplomacia. Está claro e indiscutível que Donald Trump ultrapassou os limites politicamente corretos e escancaradamente faz valer o poderio econômico que tem. Novidade pelo encaminhamento, conteúdo e postura, mas não pelos meios para obter os fins desejados. Muitas potências mundiais atuaram da mesma forma com ameaças veladas, indiretas e até com uso de força, as quais são condenáveis e inaceitáveis.
O governo brasileiro já estuda alternativas diplomáticas e de reciprocidade. Será que vai funcionar? Da mesma forma que poucos ou quase ninguém acreditava que Donald Trump seria tão contundente, pode-se crer que ele retrocederá mediante a indignação do Brasil e ameaças que pouco influenciarão na economia norte-americana? Além do inconformismo pelas decisões do STF, temos também o caso dos Brics, do qual o Brasil faz parte e que incomoda profundamente o líder estadunidense. A ideia do grupo de não utilizar o dólar para as negociações provocou o Presidente Trump a ponto de declarar: “Vão pagar por tentar destruir o dólar” A parte financeira e econômica das novas tarifas apontam para decisão simples e pragmática, ou seja, vai sofrer menos quem conseguir exportar ou importar os produtos de outros países.
Se o Brasil conseguir encontrar países compradores de seus produtos não alinhados com os Estados Unidos as sequelas serão menores e, se os Estados Unidos conseguirem importar de outros países os produtos que hoje importam do Brasil sem muita oscilação de preço o desgaste será imperceptível. Apesar terem saldo comercial positivo (vendem mais do que compram) em relação ao Brasil, US$ 200 milhões de dólares por ano não representa praticamente nada na maior economia do mundo. Parece que o governo brasileiro está mais inclinado à possibilidade de maior alinhamento com a China (maior compradora do Brasil) e outros países que têm pouca afinidade com a política estadunidense. Cabem as seguintes indagações: Estes países são confiáveis? Tem potencial para absorver os produtos brasileiros? Como será a negociação a partir do momento que os Estados Unidos saírem da disputa? A situação é extremamente delicada principalmente para o Brasil, que não pode ter sua soberania questionada como muitos entendem, além do fato de voltar atrás em decisões judiciais fica muito difícil e demonstraria fraqueza. Como compor esta negociação?
Alguns países de forma mais discreta e elegante também tem questionado o judiciário e governo brasileiro sobre a liberdade de expressão e pensamento. A carta de Donald Trump pode aliviar um pouco a pressão que o governo brasileiro vem sofrendo e com baixos índices de aprovação, já que “grande inimigo imperialista do norte”, como a esquerda nomeia está violando a soberania nacional. Isto a curto prazo pode funcionar, todavia a médio e longo prazo, como sempre acontece, quem pode mais chora menos. Eventual aumento do desemprego em setores afetados pelas tarifas, retração na economia e diminuição do lucro de setores e empresas poderosas são fortes o suficiente para travar discursos ideológicos e podem fortalecer a direita nas eleições que se avizinham.
(Dennis Munhoz é jornalista e advogado, foi Presidente da TV Record e Superintendente da Rede TV, atualmente atua como correspondente internacional, Vice-Presidente da Associação Paulista de Imprensa, apresentador e jornalista da Rede Mundial e Rede Pampa nos Estados Unidos. Instagram: @munhozdennis)