Domingo, 01 de junho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 30 de maio de 2025
A Fifa divulgou na última quinta-feira (29) uma nova versão do seu Código Disciplinar. Aprovado pelo Conselho da entidade no início deste mês, o documento aumenta o rigor das penas em casos de discriminação no futebol.
De acordo com a nova redação do artigo 75, parágrafo 1º, da Lei de Discriminação Racial (FDC), as Associações-Membro são obrigadas a incorporar os princípios do artigo 15, que trata de “Discriminação e Racismo” em seus próprios regulamentos disciplinares.
Diante deste cenário, elas (Associações-Membro) devem fazê-lo até 31 de dezembro deste ano, e deverão fornecer à Fifa as disposições adaptadas, conforme necessário.
Além disso, a entidade que comanda o futebol mundial agora se reserva ao direito de interpor recurso à Corte Arbitral do Esporte (CAS) contra decisões em casos de abuso racista, bem como de intervir nos episódios em que uma Associação-Membro não investigue adequadamente os incidentes de racismo e processe os infratores. Essas alterações estão incluídas no artigo 30, parágrafos 6 e 8.
O artigo 15, que trata do assunto sobre qualquer forma de discriminação e racismo, cita o protocolo do ano passado no qual o árbitro deve utilizar os três passos do código que são: parar a partida, suspender o jogo e, a partir daí, encerrar o duelo.
Em casos de reincidência, o código prevê sanções que vão da ordem disciplinar, à aplicação de programas de prevenção a jogos com portões fechados. Outra forma de sanção pode acontecer pela perda de pontos de uma equipe no respectivo campeonato ou torneio, ou ainda exclusão ou rebaixamento.
Recentemente, um grupo de fãs do Atlético de Madrid cantou uma música com ofensas racistas ao atacante brasileiro Vinicius Junior, do Real Madrid, que dizia: “Olé, olé, Vinicius chimpanzé”.
Episódios como esse têm se repetido. Em 2023, torcedores do Atlético de Madrid chegaram a pendurar um boneco com a camisa de Vinicius em uma ponte da capital espanhola. Diante das constantes ofensas, o atacante se tornou uma voz ativa na luta contra o racismo, cobrando medidas mais firmes de LaLiga e da Federação Espanhola.
Futebol brasileiro
Levantamento do Observatório da Discriminação Racial no Futebol mostra que o Estado com o maior número de incidentes é o Rio Grande do Sul. Foram 89 casos de racismo em estádios gaúchos entre 2014 e 2023, número que corresponde a 24,45% dos 364 incidentes mapeados no período em todo o país.
Em segundo lugar neste ranking está São Paulo, com 57 casos, ou 15,65% do total registrado nos estádios brasileiros. Minas Gerais vem na sequência, com 34 incidentes (9,34%), seguido do Rio de Janeiro, com 25 casos (6,86%), e do Paraná, com 23 casos (6,32%).
Diretor do Observatório, Marcelo Carvalho afirma que o monitoramento realizado por sua equipe aponta que o racismo no futebol está crescendo, apesar da maior conscientização sobre o tema. O observatório divulga, desde 2014, um relatório com denúncias e detalhamentos de casos de discriminação racial nesse esporte.
Naquele ano em que o relatório começou a ser publicado, foram registrados 36 casos de racismo no Brasil e no exterior. Cinco anos depois, em 2019, o número já estava em 159 casos. No ano seguinte, 2020, devido ao início da pandemia, o número de casos caiu para 81, mas voltou a subir para 158, em 2021; para 233, em 2022; e para 250, em 2023 – última edição publicada até o momento.
Para Carvalho, é fundamental que a Justiça tome decisões que deixem os racistas com receio ou medo de praticar esse tipo de crime, seja em estádios ou onde mais for.
“As pessoas precisam entender o que é racismo. Precisam entender que o que muitas vezes chamamos de piada é racismo. Caso contrário, as pessoas continuarão perpetuando esse racismo recreativo na forma de piadas que tanto vemos por aí”, acrescentou ao defender esse tipo de cuidado também nas categorias de base dos clubes.
O monitoramento citado por Marcelo Carvalho é feito a partir de denúncias veiculadas pela imprensa. “Recebemos também muitas denúncias por meio de nossas redes sociais e e-mail, mas, até por segurança jurídica, preferimos trabalhar apenas com casos que sejam veiculados na imprensa”, explica o diretor, ao ressaltar que há muitos outros casos que não constam do relatório.
Com informações dos portais de notícias CNN Brasil e Itatiaia.