Sexta-feira, 26 de setembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 26 de setembro de 2025
Pesquisadores da Mayo Clinic, nos Estados Unidos, publicaram um novo estudo que mostra que grande parte dos infartos abaixo dos 65 anos são provocados por motivos diferentes do entupimento das artérias, que é considerada a causa mais tradicional. No trabalho, 32%, quase 1 em cada 3, foram por outros fatores.
Especialmente entre as mulheres, o estudo, publicado na revista científica Journal of the American College of Cardiology, revela que mais da metade das ocorrências (53%) são por causas não tradicionais. Entre os homens, o percentual foi de 25% dos casos.
Os cientistas analisaram dados de 2.780 pacientes acompanhados de janeiro de 2003 e março de 2018, ou seja, por mais de 15 anos, que tiveram um infarto. Os voluntários faziam parte do Rochester Epidemiology Project, uma pesquisa que reúne informações médicas de milhares de habitantes de Olmsted County, no estado americano de Minnesota.
Segundo os resultados, a maior parte dos infartos em mulheres com menos de 65 anos foram por causas como dissecação espontânea da artéria coronária (DEAC), embolia e outras condições não relacionadas à placa que entope as artérias.
A incidência de ataques cardíacos foi menor nas mulheres, de 48 ocorrências a cada 100 mil pessoas-ano, contra 137 entre homens. Mas, quando elas sofriam infartos, “as causas subjacentes frequentemente eram diagnosticadas de forma equivocada”.
A DEAC, por exemplo, foi quase seis vezes mais comum em mulheres do que em homens no acompanhamento. O quadro, que normalmente afeta mulheres mais jovens e saudáveis, foi frequentemente não identificado e classificado incorretamente como um ataque cardíaco típico devido ao acúmulo de placa no período do estudo.
Esse diagnóstico ocorre quando há uma ruptura na parede de uma artéria cardíaca, o que pode diminuir ou bloquear o fluxo sanguíneo para o coração. É uma condição de emergência, geralmente não associada a fatores de risco cardíacos, como pressão alta, colesterol alto ou diabetes.
“Esta pesquisa lança luz sobre causas de ataque cardíaco que historicamente têm sido pouco reconhecidas, especialmente em mulheres. Quando a causa raiz de um ataque cardíaco é mal compreendida, isso pode levar a tratamentos menos eficazes, ou até prejudiciais”, alerta Claire Raphael, cardiologista intervencionista da Mayo Clinic e primeira autora do estudo, em comunicado.
Os autores do estudo explicam que um caso de DEAC diagnosticado incorretamente pode levar à colocação desnecessária de um stent, aumentando o risco de complicações.
No geral, infartos causados por fatores como anemia ou infecção foram a segunda causa mais comum e mais letal, com taxa de mortalidade em cinco anos de 33%, mesmo quando esses pacientes apresentavam níveis mais baixos de dano cardíaco. Já casos verdadeiramente inexplicáveis foram raros, representando menos de 3% dos casos
Rajiv Gulati, chefe da Divisão de Cardiologia Intervencionista e Doença Cardíaca Isquêmica da Mayo Clinic e autor sênior do estudo, acredita que os resultados apontam caminhos que podem reformular a forma como ataques cardíacos são diagnosticados e manejados em adultos mais jovens:
“Nossa pesquisa destaca a necessidade maior de repensar como abordamos ataques cardíacos nessa população, especialmente em mulheres adultas jovens. Clínicos precisam aumentar sua atenção para condições como DEAC, embolia e gatilhos relacionados ao estresse, e os pacientes devem buscar respostas quando algo não parece certo. Entender por que um ataque cardíaco ocorreu é tão importante quanto tratá-lo. Isso pode significar a diferença entre recuperação e recorrência”. (Com informações do jornal O Globo)