Domingo, 26 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 27 de novembro de 2022
Organização de uma cúpula de países amazônicos no Brasil; reativação da União de Nações Sul-Americanas (Unasul); recomposição imediata da relação com a Venezuela de Nicolás Maduro; volta do Brasil à Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac); maior envolvimento em debates prioritários nas Nações Unidas, entre eles sobre a gravíssima crise no Haiti; reconstrução da confiança no relacionamento com parceiros históricos do Brasil, como Estados Unidos e União Europeia (UE).
A lista é mais longa, mas estes são alguns dos temas de política externa que o governo eleito vai encarar nas próximas semanas e, sobretudo, a partir da posse em 1º de janeiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O Itamaraty hoje é visto como uma instituição combalida por ressentimentos e frustrações deixados pelo governo de Bolsonaro. Embora a gestão de Carlos França tenha feito um controle de danos, a política externa, como todas as demais, vai requerer enorme dedicação e lideranças sólidas.
As reuniões do grupo que está trabalhando na transição no Itamaraty são virtuais, e por enquanto têm girado em torno de questões burocráticas, orçamentárias e de funcionamento da máquina estatal. O governo eleito quer saber em que estado encontrará o Itamaraty, ministério que, ao contrário de outros como Meio Ambiente e Cultura, não é visto como terra arrasada.
Pautas
Alguns debates internacionais estão começando a entrar na agenda do governo eleito, entre eles a delicada situação no Haiti. Em sua visita ao Egito, Lula se reuniu com o enviado de Joe Biden para o clima, John Kerry, e com o secretário-geral da ONU, António Guterres. Com ambos, segundo informações que circularam após os encontros, a questão Haiti surgiu na conversa. Alguns países, entre eles e principalmente os EUA, pressionam pelo envio de uma força internacional à nação caribenha, mas a iniciativa vem perdendo impulso por falta de consenso no Conselho de Segurança, onde o Brasil ocupa uma vaga rotativa — o mandato de dois anos termina no final de 2023.
A questão climática estará, sem dúvida, entre as prioridades da política externa do novo governo, como Lula deixou claro em seu discurso na COP27, no Egito, quando disse que “o Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva”.
Clima e integração regional, na visão do governo eleito, caminham de mãos dadas. O Brasil quer que os países amazônicos tenham posições comuns perante o mundo e, para iniciar esse debate, será convocada uma cúpula no Brasil, ainda no primeiro semestre de 2023, provavelmente com convidados de fora da região.
O governo eleito pretende, em pouco tempo, voltar a olhar para a região com atenção e engajamento. E, algo frisado pelas fontes ouvidas, com pluralidade. O exemplo que sempre surge nas conversas é o do relacionamento entre Lula e o ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe. Nesse sentido, contatos com governos como o do equatoriano Guillermo Lasso, de direita, têm acontecido, por interesse de ambos os lados.
Posse
O cerimonial do Planalto espera uma presença recorde de presidentes da região na posse. Todas as fontes consultadas afirmaram que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, deverá participar. Após a posse, espera-se a rápida reabertura da embaixada brasileira em Caracas — literalmente abandonada desde 2019 — e dos consulados do Brasil no país.
A visão do governo eleito é clara: a saída do Brasil da Venezuela abriu espaço para que outros países, como China e Rússia, ampliem sua presença. O Brasil de Lula quer uma relação fluida com Maduro e acompanhar de perto — talvez participar — das negociações entre governo e oposição retomadas no sábado no México.
Nomes cotados
As últimas semanas foram de especulações sobre quem será o futuro ou a futura chanceler do Brasil, com grandes chances que seja um diplomata de carreira. O governo eleito quer um nome com experiência e próximo do presidente. O ex-chanceler Celso Amorim foi sempre o mais cotado, mas circularam informações que indicariam que seu lugar será uma assessoria especial da Presidência. Nada foi decidido ainda, mas essa parece ser a tendência.
Entre os diplomatas de carreira um dos nomes citados mais frequência é o do embaixador Mauro Vieira, que foi chanceler de Dilma Rousseff. Ele está atualmente na Croácia, em uma espécie de exílio para onde foi enviado pelo então chanceler Ernesto Araújo, por ordem direta de Bolsonaro.