Sábado, 08 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 3 de janeiro de 2023
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o Brasil vive hoje o paradoxo de ter uma inflação menor que a dos Estados Unidos e de países europeus e, ao mesmo tempo, ter a maior taxa de juros real do planeta. Para ele, a taxa de juros no Brasil está num patamar fora de propósito. Ele também falou de câmbio, tema sensível para o Banco Central, que agora é independente.
“Olha o paradoxo que estamos vivendo! Uma situação completamente anômala: uma inflação comparativamente baixa e uma taxa de juros real fora de propósito para uma economia que já vem desacelerando”, afirmou, numa entrevista de uma hora ao portal 247, transmitida pela internet. A taxa de juros real a que o ministro se referiu é aquela calculada acima da inflação.
“Só não diz isso aquele que quer mal informar a população. A economia já vinha desacelerando”, acrescentou, sem fazer referências diretas ao Banco Central.
Haddad foi questionado como está sendo o diálogo dele com Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e com mandato para ficar no cargo até 2024. A resposta de Haddad foi direta: “Eles sabem disso. Estão acompanhando o dia todo.”
O ministro ressaltou que houve aumento brutal da taxa Selic (juros básicos da economia definidos pelo BC), de 2% para 13,75%, em decorrência do que chamou de “farra eleitoral” promovida por Bolsonaro.
Haddad queixou-se do custo dessa farra eleitoral não vir à luz com a clareza necessária.
“Nós tivemos uma farra eleitoral de um presidente fadado ao fracasso, que desesperadamente buscou a sua reeleição e produziu uma expansão dos gastos, das isenções, que veio acompanhada de um brutal aumento de juros, que saiu de 2% para 13,75%”, afirmou.
Para ele, é esse problema que deveria se estar discutindo para entender as dificuldades para o saneamento das contas públicas. Segundo Haddad, se as “peças forem encaixadas direitinhas”, tomando as medidas necessárias para enfrentar esse problema, o Brasil poderá voltar a crescer com qualidade. “Com baixa inflação e baixo desemprego.”
Meta de câmbio
Haddad descartou a adoção pelo governo Lula de uma meta para taxa de câmbio. Para ele, é possível atuar com “governança” das contas públicas para estabilizar e não permitir tanta volatilidade tanto no câmbio como nos juros.
“Não está em discussão ter uma meta para taxa de cambio”, disse. Segundo ele, o real é uma das moedas mais negociadas do mundo devido à ação dos especuladores. “Se ela (o real) não é conversível como o euro, o dólar, por que é tão negociada? É negociada pelos especuladores justamente em função de ter alta volatilidade”, disse.
Para ele, a volatilidade da taxa de câmbio no Brasil é um mal para a moeda brasileira porque os investidores não têm um horizonte de planejamento. A razão, disse Haddad, é com volatilidade não se consegue “planilhar” um investimento e saber com segurança qual será a taxa interna de retorno do quando mais volátil é taxa de câmbio.
“Alguém pode dizer que tem uma média. Mas, se a pessoa precisa de liquidez, ela não pode contar com a sorte”, ponderou o ministro. Ele ressaltou que por essa razão a taxa de cambio e de juros são variáveis muito importantes para o investidor ter um longo horizonte de confiança no Brasil com mais previsibilidade.
“Não tem meta para essas duas variáveis. Até porque é quase impossível ter metas para coisas que respondem tão avidamente para as forças do mercado”, disse.
A fala sobre o câmbio foi feita em resposta a uma pergunta sobre a contribuição que uma taxa mais baixa poderia ter para combater a inflação.
Inflação e emprego
Haddad também respondeu a uma pergunta de um dos entrevistadores do portal 247 se é possível combinar inflação baixa com bom nível de emprego. O entrevistador fez a pergunta ao ministro começando com uma referência sobre o Banco Central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), que tem na sua sede uma placa que aponta a sua missão de garantir a estabilidade levando em consideração o nível ótimo de emprego.
Haddad respondeu que o Brasil já viveu momentos de inflação e desemprego baixos. Mas ponderou que, às vezes, o cenário ajuda muito. Por exemplo, quando o mercado externo está bom e os preços dos produtos que o País exporta estão altos. “Existem condições mais e menos favoráveis. O grande mérito dos grandes governantes é aproveitar janelas de oportunidade quando o céu está azul”, disse, ressaltando que esses períodos benignos não são duradouros numa economia de mercado com a especulação financeira que existe no mundo.
Segundo o ministro, há bolhas especulativas para todos os lados. Ele avaliou que a crise internacional de 2008, na prática, não acabou até hoje. “Os Estados Unidos estão com inflação alta, 7% a 8%. Têm países na Europa com inflação de 10%, o que não acontecia desde a segunda guerra mundial.”