Segunda-feira, 03 de novembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 2 de novembro de 2025
De capacete e colete, representantes de entregadores por aplicativo se aglomeravam na porta da Secretaria-Geral da Presidência, no quarto andar do Palácio do Planalto, na quinta-feira. Empossado na véspera, o ministro Guilherme Boulos deixou o gabinete e cumprimentou um a um, numa de suas primeiras reuniões de trabalho.
O ex-líder sem-teto avalia que a esquerda errou ao colocar o que quer para a categoria sem ouvi-la e defende a aproximação para que a promessa de Lula de regulamentar esse tipo de trabalho seja cumprida.
A interlocução com os motoboys é estratégica para Lula do ponto de vista eleitoral. Essa é uma categoria que, há alguns anos, aderiu em grande parte ao bolsonarismo e às ideias de trabalho intermitente propagadas pela direita. Na campanha ao Planalto, o petista tentou sensibilizá-los juntamente com os motoristas de aplicativos, mas as dificuldades de abordagem atrapalharam a aproximação.
No governo, Lula e o ministro Luiz Marinho (Trabalho) tentaram elaborar regras de proteção trabalhista que, até o momento, não foram amplamente aceitas pela categoria. Pela proposta, os aplicativos teriam de contratar, no mínimo, com registro do INSS.
A ligação de Boulos com os motoboys ocorreu durante seu mandato de deputado federal, e é essa aproximação que deve ser aproveitada por Lula.
1. O senhor terá pouco mais de um ano como ministro. O que vai ser possível entregar?
A primeira missão dada pelo presidente é rodar o Brasil. Vou para todos os estados até maio. Conversar com os movimentos sociais e os setores com os quais às vezes temos dificuldade de dialogar. Ao mesmo tempo, levar o que o governo tem feito. Também vou constituir grupos de trabalho com trabalhadores de aplicativo e outro com pequenos empreendedores. A ideia é construir soluções para um setor que em geral está na informalidade e que às vezes tem um grau de resistência às políticas do governo. A classe trabalhadora mudou.
2. O projeto enviado pelo governo em 2024 já trazia ideias que o senhor tem para os trabalhadores de aplicativos e ficou emperrado no Congresso. Por que andaria agora?
Tem diferenças. O trabalho daquela primeira iniciativa do governo foi muito importante. Os trabalhadores querem uma garantia, mas a remuneração mínima tem um peso maior para eles. Por que as plataformas ficam com uma fatia tão relevante de cada viagem? Só pela intermediação tecnológica? Isso precisa ser regulamentado. Sobre a Previdência, a extrema direita insistiu que significaria taxar o trabalhador pela contribuição. Isso gerou ruído e ajudou a travar o projeto. A esquerda errou muitas vezes — e aqui não é o governo — porque sempre colocou o que quer para os trabalhadores dessas novas formas de trabalho. Poucas vezes parou para ouvir o que eles querem.
3. O senhor citou os evangélicos no discurso de posse. Vai ajudar na interlocução?
Quero dialogar com evangélicos, católicos, gente de todas as religiões. Se o presidente me der essa atribuição, farei com gosto. Venho de um movimento social, os sem-teto, que tem pastores na coordenação e a maior parte da base social evangélica. Eles estão concentrados nas periferias e se beneficiam com políticas do governo. Muitas vezes, esse diálogo está truncado. É essencial para o futuro das ideias progressistas no Brasil destravar a conexão com milhões de evangélicos nas periferias.
4. Sua chegada representa uma guinada do governo à esquerda?
Quem teve 60 milhões de votos para conduzir o governo é o presidente Lula. Ele vai definir a minha atuação. Há um equilíbrio na frente que ajudou a elegê-lo. Eu não ouvia que o governo estava dando um giro à direita quando partidos de centro-direita indicaram ministros para a composição da governabilidade. Da mesma forma, não se trata disso quando são figuras mais identificadas com a esquerda.
5. O correto é baixar a temperatura da polarização ou enfrentá-la?
A questão não é gostar ou não da polarização. Ela está aí. Olha o desaguar melancólico do PSDB. E todos os partidos que tiveram uma posição mais em cima do muro na polarização estão definhando no mundo inteiro.
6. O senhor defende o fim da escala 6×1, mas o governo não faz nenhum movimento favorável no Congresso. Há uma contradição?
O governo fez movimentos, mas não comanda o Congresso. O projeto do Imposto de Renda, que era mais consensual, ficou seis meses parado na gaveta… Eu estava lá (no Congresso) até a semana passada, as coisas não são fáceis. A posição do presidente Lula é pelo fim da escala 6×1 e vamos intensificar o trabalho para que avance no Legislativo. (As informações são de O Globo e IstoÉ)