Terça-feira, 10 de junho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 9 de junho de 2025
Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) tem revolucionado a produção de conteúdos audiovisuais, alcançando níveis inéditos de realismo e complexidade. A popularização de vídeos gerados por IA nas redes sociais tem despertado atenção e causado confusão entre internautas, além de acender debates sobre as implicações éticas, culturais e sociais dessa nova tecnologia.
Um dos principais responsáveis por esse avanço é o Veo 3, modelo desenvolvido pelo Google, que permite a criação de vídeos com efeitos sonoros e diálogos personalizados. A ferramenta tem sido amplamente utilizada para simular eventos cotidianos e até históricos, com tamanha fidelidade que muitos espectadores têm dificuldade em distinguir o que é real do que é artificial.
Marcelo Senise, presidente do Instituto Brasileiro para a Regulamentação da Inteligência Artificial, avalia que estamos diante de uma transformação sem precedentes na produção audiovisual. “A IA não apenas imita a realidade, mas a reconstrói de forma convincente e imersiva”, afirma. Segundo ele, o potencial dessa tecnologia é imenso, tanto para o entretenimento quanto para a propagação de desinformação.
Três fatores principais explicam esse salto tecnológico: o aumento da capacidade computacional, o uso de modelos generativos multimodais como o próprio Veo 3 e o Sora, da OpenAI, e o acesso a bancos de dados massivos que alimentam o treinamento dessas IAs. Combinados, esses elementos permitem a geração de cenas detalhadas, com som, iluminação e movimento quase indistinguíveis dos registros reais.
O fenômeno está relacionado ao chamado “ponto de ruptura”, momento em que se torna praticamente impossível identificar se determinado conteúdo foi feito por humanos ou por máquinas. Senise destaca, contudo, que a IA também pode ser usada de forma positiva, por exemplo, na recriação de episódios históricos com fins educativos, desde que haja responsabilidade e transparência no processo.
Bruno Rietcher, especialista em IA e marketing digital, observa que a maioria dos vídeos atuais tem duração entre seis e oito segundos, devido ao custo computacional. Mas ele prevê que, em breve, será possível criar filmes, séries e novelas inteiras com a tecnologia, permitindo inclusive a interação do público com diferentes desfechos. “Isso já está no horizonte”, afirma.
Apesar do avanço acelerado, ainda é possível detectar indícios de que um vídeo foi gerado por IA. Detalhes como mãos com dedos a mais, sombras incoerentes e expressões faciais rígidas são algumas das falhas recorrentes. “A IA está aprendendo a imitar com precisão desde o piscar de olhos até a luz ambiente, mas ainda entrega sinais”, explica Rietcher.
A criação de vídeos sobre temas religiosos ou eventos sensíveis também impõe desafios éticos. Rietcher alerta que o uso de IA nessas representações exige respeito, sob risco de banalizar ou distorcer fatos que fazem parte da memória coletiva de um povo. “O contexto é essencial quando lidamos com símbolos e narrativas tão carregadas de significado”, acrescenta.
Um caso recente que causou polêmica foi a disseminação de um vídeo gerado por IA no qual uma mulher simulava estar em situação de vulnerabilidade e pedia ajuda por Pix. O conteúdo viralizou, gerando indignação e preocupação com o uso da tecnologia para golpes e desinformação. O influenciador Wilame Morais, que divulgou o vídeo, alertou sobre os riscos em um cenário eleitoral, destacando a importância da checagem crítica por parte do público.
À medida que ferramentas como o Veo 3 se tornam mais acessíveis e sofisticadas, cresce também a necessidade de regulamentações e de um uso consciente dessas tecnologias. Especialistas defendem que a educação midiática e a transparência sobre o uso de IA serão essenciais para mitigar riscos e garantir que os avanços contribuam de forma ética para a sociedade.