Sexta-feira, 20 de junho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 19 de junho de 2025
Recentemente, o técnico do Fluminense Renato Portaluppi foi surpreendido pela filha, Carol, com uma brincadeira: ela fingia que estava grávida. Depois do “alarme falso”, Renato espera, em breve, receber a notícia para valer. Em quase uma hora de entrevista ao jornal O Globo, ele abriu o coração, falou sobre o desejo de ser avô e garantiu que ainda tem muito tesão no futebol. Tanto para comandar como para criticar alguns comportamentos que vê em equipes e colegas de profissão, sobretudo os que ainda querem imitar os treinadores estrangeiros. Com duelos internacionais pela frente, Renato avisa que vai jogar para ganhar sempre, mas que quer fazer o simples, sem engessar o jogador ou ter que falar palavra difíceis, o que costuma irritá-lo.
E confirma o novo técnico da seleção brasileira como exemplo: “O Ancelotti, multicampeão, não fala difícil, não inventa. Porque simplifica. É fácil.”
1-Você teve seu nome citado por torcedores para comandar a seleção brasileira e disputará um torneio internacional com o Fluminense. Como se mantém no alto nível? Tem tesão?
Tesão, eu tenho, senão não estaria aqui. Eu tenho tudo na vida. Estou aqui pelo tesão. Eu quero ganhar, trabalho para isso. Se vou ganhar ou não… Tenho tesão de ensinar, passar o que eu aprendi, não só para os mais jovens, mas para jogadores diferentes também. Eu aprendo com garoto hoje em dia, mas pode ter certeza de que eles aprendem muito comigo também, por tudo o que vivi. É importante um grupo olhar para o comandante e saber: “pô, esse cara vai me ensinar”. O grupo tem respeito por mim, e eu o escuto, porque, querendo ou não, todo dia vou aprender alguma coisa com eles também.
2-Você costuma ter uma visão crítica do futebol brasileiro, mas tem estado mais sereno. Por quê?
A experiência é tudo. Antigamente, eu contava até dois, hoje eu conto até dez. Penso que isso é uma coisa normal na vida de qualquer um. Vai passando o tempo, você vai pensando, vai analisando melhor antes de dar uma resposta. Às vezes, você tem que engolir um sapo. Faz parte da vida. Muitos erros, a gente comete por falta de experiência. Mas, com o passar do tempo, você vai vendo de outro modo as coisas. Mas tem horas em que tem que soltar o verbo mesmo.
3-Os clubes brasileiros que participam do Mundial têm dois treinadores estrangeiros (os portugueses Abel Ferreira no Palmeiras e Renato Paiva no Botafogo) e dois nacionais (Filipe Luís, da nova geração, no Flamengo, e você, mais experiente). Sente-se um sobrevivente no mercado? Já pensou em parar?
Não, nunca. Porque eu confio muito no meu trabalho, na minha equipe. Essa confiança andava comigo quando eu era jogador e anda comigo como treinador. Não quero saber se está cheio de portugueses, argentinos, de qualquer país. Tem espaço para todo mundo, muito porque o treinador brasileiro deu essa brecha. Quando fui fazer o curso (de treinadores) na CBF, pediram para os mais experientes darem uma palestra. Uma das coisas que falei para eles foi: “Se vocês, mais jovens, continuarem com esse pensamento de querer imitar 100% o cara lá de fora, vocês vão perder o espaço aqui. Vocês têm que copiar as coisas boas lá de fora, mas tem muita coisa ruim lá de fora que vocês estão copiando”. Eu não vou por esse caminho nunca. Eu vejo um monte de jogos e pego as coisas boas. As ruins, eu deleto. Outro conselho que dei foi para darem liberdade ao jogador brasileiro. O brasileiro gosta do drible, da movimentação… Estão engessando o jogador brasileiro.
4-Está tudo muito igual, até a forma de falar de futebol?
Palavras difíceis me irritam até hoje. Você não tem que quebrar a cabeça do jogador de futebol, porque ele tem vergonha de perguntar “o que você quer dizer com isso?”. E aí, o que vai acontecer? Ele vai entrar na dúvida, sem saber se faz aquilo que está na cabeça dele ou aquilo que você está pedindo e ele não entendeu. O jogador entra no campo com vergonha de perguntar o que quer dizer aquela palavra. Entender de futebol não é falar bonito. Você tem que fazer os caras entenderem o que você quer.
5-Vale para o torcedor também? Por isso você fala simples em coletivas?
Óbvio. Principalmente para o torcedor, né? O torcedor muitas vezes não sabe o que a palavra fácil quer dizer no futebol, imagina a difícil.
6-Carlo Ancelotti, novo treinador da seleção brasileira, aproxima-se desse perfil?
O Ancelotti, multicampeão, não fala difícil, não inventa. Porque simplifica. É fácil. Ancelotti é bem próximo disso, não complica. Eu não gosto de (passe de) três dedos, só quando é necessário, e falo isso para o grupo. Porque o cara que bate em três dedos quer mostrar que sabe, mas está atrasando a jogada. Faça o arroz com feijão. Você sabe quem é o Messi? Eu pergunto para ele. Você vê o Messi dando de três dedos? E ele sabe dar. Mas por que vai dar? Tem jogadores do Brasil que dão para dizer: “Olha, sei bater bem na bola”. Dá o passe certo, que você vai adiantar seu companheiro na jogada.
7-Além do desejo de ser campeão, trouxe na mala para os EUA uma lista de compras da Carol (Portaluppi, filha do treinador)?
Não. Ela é o motivo pelo qual estou trabalhando até hoje. Eu falo: “Seu pai não está aposentado ainda por tua causa, é demais”. Ela sai comprando, ela é uma máquina.
8-Tem vontade de ser avô?
Eu nunca parei para pensar nisso. Gosto tanto da minha filha… E pai que gosta da filha tem ciúme. No fundo, no fundo, gostaria de ser avô sim. Se tiver que acontecer, vai acontecer normalmente.
9-Como está o coração? Você até ficou fora de uma viagem do Fluminense.
Está 100%. Minha filha que faz palpitar um pouco mais forte de vez em quando. Eu precisava daquela semana para treinar o time. No ano passado, fui com o Grêmio para La Paz. Vida normal.
10-O futevôlei está em dia?
Sempre que dá. Atualmente, impossível.
11-Você tem alguma relação com os Estados Unidos? Não gosta de frio, né?
Cheguei aqui e brinquei com o presidente (do Fluminense, Mário Bittencourt): “Estou me sentindo em Porto Alegre. Saí de lá com frio e chuva. Estou nos Estados Unidos, frio e chuva”. É demais.
12-Rio de Janeiro é melhor que Nova York, então?
Com todos os problemas… Aqui, tem que andar muito na linha, e quem anda na linha é trem.