Quarta-feira, 18 de junho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 17 de junho de 2025
O avanço do cerco jurídico ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a alimentar especulações em torno de uma eventual candidatura à Presidência do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). A hipótese de que Bolsonaro declare apoio a quem se comprometer a lhe conceder indulto reforçou em setores políticos a avaliação de que Tarcísio possa ser escolhido como seu sucessor. O governador, por ora, mantém o discurso de que concorrerá à reeleição.
Julgado no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe, Bolsonaro
caminha para condenação e eventual prisão, o que cria dúvidas sobre seu capital político e o poder de controlar, na arena eleitoral, a oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No fim de semana, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) admitiu considerar um cenário em que o pai abriria mão de se registrar como candidato para ungir um aliado em troca de perdão judicial. Flávio disse, no entanto, que seria preciso garantir o STF no arranjo.
Tarcísio, que só iria para a corrida nacional com o aval do ex-mandatário, é visto por uma ala bolsonarista como o nome com maior possibilidade de ser bem-sucedido ao amarrar um acordo entre Executivo, Congresso e STF para anular as virtuais sentenças. A avaliação é que ele transita entre diferentes forças e tem canais de diálogo inclusive com o ministro Alexandre de Moraes, do STF. O estilo mais ameno, que por vezes gera incômodo em parcelas ideológicas do bolsonarismo, acabaria sendo útil, nesse caso.
Por outro lado, interlocutores de Tarcísio dizem que o encorajam a manter o plano de buscar um segundo mandato, já que a vitória é dada como certa e ele poderia concluir projetos que iniciou. Outro motivo para cautela, na visão desses aliados, é que Lula poderá não ser um adversário tão simples de bater. Eles dizem que hoje o presidente está com a popularidade em baixa, mas, mesmo assim, conserva força nas pesquisas e ainda terá a máquina na mão.
Pesquisa Datafolha divulgada no domingo (15) mostrou que, à exceção de Bolsonaro — que está inelegível até 2030 —, é Tarcísio quem mais se aproxima das intenções de voto de Lula num eventual segundo turno (42% a 43%). Os familiares de Bolsonaro testados no levantamento — a ex-primeira-dama Michelle, o deputado federal Eduardo e o senador Flávio (todos do PL) — também tiveram pontuação expressiva.
Políticos do entorno de Tarcísio não descartam a possibilidade de que a pressão em favor do nome dele, junto a Bolsonaro, possa levá-lo a se tornar presidenciável, mas ponderam que o governador “não quer errar” com o ex-presidente e só entrará na missão se for chamado para ela, para não ser acusado de traição. O próprio Tarcísio tem que administrar expectativas, diante do entusiasmo de apoiadores. Setores econômicos e sociais fazem chegar a ele a mensagem de que trabalhariam por sua vitória ao Planalto. Partidos da direita, centro-direita e centrão também enxergam o governador como figura que produziria consenso.
O segmento está hoje “travado” pela insistência de Bolsonaro em se dizer candidato, sugerindo registrar uma chapa com um nome de sua confiança na vice que possa assumir a candidatura quando o pedido for negado pela Justiça Eleitoral.
Enquanto isso, governadores sem a possibilidade de concorrer à reeleição em seus Estados se movimentam, como Ratinho Junior (PSD-PR), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) e Romeu Zema (Novo-MG).
Uma eventual pulverização de candidaturas tende a beneficiar Lula no primeiro turno, caso o presidente vá mesmo tentar um quarto mandato. No segundo turno, contudo, a expectativa é que os rivais se unam em torno de quem for o “antigovernista”.
O pastor Silas Malafaia, aliado de Bolsonaro, diz que “discussão sobre indulto não é agora” e que seu foco é apontar o que chama de injustiças no processo do STF. “Preso, não preso ou impedido de concorrer, Bolsonaro vai ser o maior cabo eleitoral. Você tem Michelle, Tarcísio, Ratinho, Caiado, Zema. Quem ele ungir vai chegar lá”, afirma Malafaia.
O PT prefere que Tarcísio fique no Estado e teme que ele antagonize Lula no plano nacional, por ser um rival mais duro de superar. Pela lei, o governador teria que renunciar ao cargo em abril para concorrer a presidente. Aliados de Tarcísio contrários à empreitada falam que ele ficaria sujeito à “instabilidade” de Bolsonaro e trocaria “uma eleição que está organizada pela imprevisibilidade de uma briga nacional”.
Caiado e Zema já prometeram publicamente que, se chegassem à Presidência, dariam indulto para Bolsonaro, sob o argumento de que é preciso “pacificar” o país. Tarcísio não tem declarações específicas sobre essa hipótese, mas defende a inocência do ex-presidente e apoia a campanha por anistia para os condenados pelo 8 de Janeiro. (Com informações do Valor Econômico)