Quinta-feira, 19 de junho de 2025

O Brasil na armadilha da renda média

O Brasil vive hoje um desafio silencioso, porém decisivo para seu futuro: a armadilha da renda média. Trata-se de um fenômeno em que países, após alcançarem um patamar intermediário de desenvolvimento, não conseguem dar o salto para se tornarem economias avançadas.

Esse bloqueio estrutural ocorre quando se esgotam os ganhos proporcionados pela urbanização e pela migração da mão de obra do campo para a cidade – conhecido na literatura como o ponto de Lewis –, sem que haja a transição para uma economia baseada em produtividade, inovação e sofisticação tecnológica.

No nosso caso, essa dinâmica se revela com clareza. Crescemos, nas últimas décadas, apoiados em setores como agronegócio, comércio, varejo e construção civil. Edificamos prédios, shoppings, salas comerciais e bairros inteiros. Contudo, sem uma base produtiva complexa, esse ciclo emperra. Hoje, vemos os sinais claros disso: salários médios baixos e nossa produtividade mais baixa ainda.

O Índice de Complexidade Econômica (ECI) do Brasil, que oscila há anos entre 0 e 0,5, reflete com precisão esse entrave. Somos uma economia que planta, extrai e monta, mas que pouco projeta, pouco inova e não participa das cadeias globais nas etapas de maior valor agregado.

Por que estagnamos? As razões são muitas e interligadas. Primeiro, há o baixo investimento em inovação e pesquisa. O Brasil investe cerca de 1,2% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, muito distante dos 4,8% da Coreia do Sul ou dos 5,4% de Israel – países que conseguiram escapar dessa armadilha.

Depois, pesa o descompasso educacional. Nossa formação acadêmica segue desconectada das demandas da nova economia. Seguimos diplomando profissionais em áreas que pouco dialogam com ciência, tecnologia e inovação, enquanto faltam engenheiros, cientistas de dados e técnicos qualificados.

Some-se a isso o Custo Brasil, um emaranhado de burocracia, insegurança jurídica, sistema tributário disfuncional e infraestrutura deficiente, que corrói a competitividade de quem tenta produzir e inovar aqui.

Outro fator crucial é a nossa desindustrialização precoce. Começamos a perder participação da indústria no PIB antes mesmo de consolidar uma transição para uma economia de serviços de alto valor, como fizeram os países desenvolvidos.

Por fim, há o nosso isolamento relativo nas cadeias globais de valor. Somos uma das economias mais fechadas entre os países relevantes, o que limita nosso acesso à tecnologia, aprendizado produtivo e mercados externos.

Sair dessa armadilha não é simples, mas é possível. Depende de escolhas estruturais e de longo prazo, que não podem se subordinar ao calendário eleitoral nem aos ciclos de curto prazo.

O caminho passa, antes de tudo, pela reindustrialização baseada em tecnologia. O Brasil precisa apostar em setores como biotecnologia, energia limpa, semicondutores, inteligência artificial e na transição para uma economia digital e verde. Isso exige uma política industrial moderna, inteligente e articulada entre governo, setor privado e universidades.

É igualmente urgente uma reforma profunda na educação, especialmente na educação técnica, profissionalizante e superior, alinhando-a às demandas da nova economia. Também é necessário integrar o Brasil às cadeias globais, de forma estratégica, negociando acesso a mercados, transferência de tecnologia e parcerias produtivas. Abrir-se não significa abrir-se de qualquer jeito, mas com estratégia e foco no desenvolvimento interno.

A reforma tributária efetiva – que simplifique, reduza distorções e não penalize quem produz – e a modernização da infraestrutura física e digital são igualmente indispensáveis. Permanecer na armadilha da renda média não é destino, é escolha – ou, melhor, a consequência de sucessivas não escolhas. Já começamos a ver os sinais do que significa ficar parado: baixo crescimento, desemprego estrutural, estagnação e frustração social. O Brasil precisa decidir se quer continuar a fazer mais do mesmo ou avançar rumo ao futuro, com coragem e espírito reformador.

(Instagram: @edsonbundchen)

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Colunistas

Deputado questiona repasse do RS à Portela para o Carnaval de 2026
Ladroagem & prostitutas
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play