Terça-feira, 26 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 26 de agosto de 2025
Houve um tempo em que amizade era coisa séria. Não era contato em rede social, nem número no celular, muito menos alguém num grupo de WhatsApp.
Era aquele garoto que estava contigo no campinho de terra, dividindo a bola surrada… Que te esperava na esquina para vocês aprontarem molecagens, como roubar bergamota do vizinho ou tocar a campainha e sair correndo.
Aquele que estava contigo soltando pipa até o sol se pôr ou o parceiro de bolinha de gude, taco e pião. Amizades surgiam do nada, às vezes, até mesmo de uma briga na escola.
Nascia da briga no recreio e, dias depois, terminava em bola dividida, figurinhas trocadas e até mesmo uma boa conversa, dali nascia um laço para a vida inteira.
Na escola, aprendíamos sem que ninguém nos ensinasse que o certo era defender o mais fraco e enfrentar o valentão, lado a lado com o colega que tremia de medo. Isso fazia com que a gente sentisse orgulho. A questão não era ganhar ou perder a briga, mas enfrentar seu adversário com coragem ao lado do seu melhor amigo.
Aquele amigo não era só amigo: era irmão de guerra. Aos 17 anos, eu podia jurar, e jurava mesmo, que morreria por eles, sem hesitar…
Porque, naquela idade, amizade não tinha cálculo. Era pura lealdade e coração.
O tempo passou e, com ele, vieram as responsabilidades. O trabalho, a família, os filhos…
A vida adulta nos ensina que não podemos mais morrer pelos amigos, precisamos é aprender a “viver por eles”.
Não dá mais para largar tudo no meio da noite só para conversar até o amanhecer, mas ainda estendemos a mão quando necessário.
Hoje, a maior alegria, muitas vezes não está em salvar um amigo da queda, mas em comemorar com ele a vitória. Como já escrevi em outra crônica: “ajudar um amigo é importante, mas melhor ainda é festejar quando ambos vencemos”…
Mas percebo que algo mudou de forma mais profunda, e não me refiro apenas à fase adulta que naturalmente chega, mas à própria essência que moldava as grandes amizades no passado, principalmente na transição da adolescência para a fase adulta.
Pesquisas confirmam essa crise silenciosa
Nos Estados Unidos, o número de adultos que dizem não ter nenhum amigo próximo quadruplicou desde 1990, chegando a 12%.
Enquanto isso, os que afirmam ter mais de dez amigos íntimos caíram em um terço. O mesmo fenômeno começa a se repetir em outras partes do mundo, inclusive no Brasil.
A amizade de ontem era cultivada na rua, no clube, na igreja, no churrasco de domingo, no campinho de futebol. Hoje, se dilui entre telas, teclados e notificações de mensagem.
Conversar com estranhos em cafés ou praças, tão comum no passado, virou cena rara. O número de pessoas que comem sozinhas nos Estados Unidos cresceu 29% em apenas dois anos.
Até Stanford precisou criar um curso chamado Design para Amizades Saudáveis, ensinando como reaprender a fazer amigos.
Estamos diante de uma crise silenciosa. A solidão deixou de ser opção e virou hábito. Se não cuidarmos, amizades antigas se perderão, e as novas nem chegarão a nascer.
Certa vez, o escritor Boniek Ware disse que um dos maiores arrependimentos dos moribundos é não ter mantido contato com seus amigos. Esse arrependimento não é à toa.
Estudos mostram que isolamento social aumenta o risco de doenças cardíacas, demência e até mortalidade, tão prejudicial quanto fumar 15 cigarros por dia.
Por outro lado, amizades verdadeiras fortalecem a saúde física, mental e emocional.
O famoso estudo de 80 anos da Universidade de Harvard concluiu: não é a carreira nem o dinheiro que garantem felicidade, mas, sim, os relacionamentos próximos.
Amizade é como investimento: exige tempo, perdão, ligação, presença. Ontem, eu daria a vida por um amigo. Hoje, sei que a vida só vale a pena se for compartilhada com eles, meus velhos e novos amigos.
Como diria Paulo Sant’Ana: “Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos”.
* Fabio L. Borges, jornalista e cronista gaúcho
Por Redação do Jornal O Sul | 26 de agosto de 2025
Houve um tempo em que amizade era coisa séria. Não era contato em rede social, nem número no celular, muito menos alguém num grupo de WhatsApp.
Era aquele garoto que estava contigo no campinho de terra, dividindo a bola surrada… Que te esperava na esquina para vocês aprontarem molecagens, como roubar bergamota do vizinho ou tocar a campainha e sair correndo.
Aquele que estava contigo soltando pipa até o sol se pôr ou o parceiro de bolinha de gude, taco e pião. Amizades surgiam do nada, às vezes, até mesmo de uma briga na escola.
Nascia da briga no recreio e, dias depois, terminava em bola dividida, figurinhas trocadas e até mesmo uma boa conversa, dali nascia um laço para a vida inteira.
Na escola, aprendíamos sem que ninguém nos ensinasse que o certo era defender o mais fraco e enfrentar o valentão, lado a lado com o colega que tremia de medo. Isso fazia com que a gente sentisse orgulho. A questão não era ganhar ou perder a briga, mas enfrentar seu adversário com coragem ao lado do seu melhor amigo.
Aquele amigo não era só amigo: era irmão de guerra. Aos 17 anos, eu podia jurar, e jurava mesmo, que morreria por eles, sem hesitar…
Porque, naquela idade, amizade não tinha cálculo. Era pura lealdade e coração.
O tempo passou e, com ele, vieram as responsabilidades. O trabalho, a família, os filhos…
A vida adulta nos ensina que não podemos mais morrer pelos amigos, precisamos é aprender a “viver por eles”.
Não dá mais para largar tudo no meio da noite só para conversar até o amanhecer, mas ainda estendemos a mão quando necessário.
Hoje, a maior alegria, muitas vezes não está em salvar um amigo da queda, mas em comemorar com ele a vitória. Como já escrevi em outra crônica: “ajudar um amigo é importante, mas melhor ainda é festejar quando ambos vencemos”…
Mas percebo que algo mudou de forma mais profunda, e não me refiro apenas à fase adulta que naturalmente chega, mas à própria essência que moldava as grandes amizades no passado, principalmente na transição da adolescência para a fase adulta.
Pesquisas confirmam essa crise silenciosa
Nos Estados Unidos, o número de adultos que dizem não ter nenhum amigo próximo quadruplicou desde 1990, chegando a 12%.
Enquanto isso, os que afirmam ter mais de dez amigos íntimos caíram em um terço. O mesmo fenômeno começa a se repetir em outras partes do mundo, inclusive no Brasil.
A amizade de ontem era cultivada na rua, no clube, na igreja, no churrasco de domingo, no campinho de futebol. Hoje, se dilui entre telas, teclados e notificações de mensagem.
Conversar com estranhos em cafés ou praças, tão comum no passado, virou cena rara. O número de pessoas que comem sozinhas nos Estados Unidos cresceu 29% em apenas dois anos.
Até Stanford precisou criar um curso chamado Design para Amizades Saudáveis, ensinando como reaprender a fazer amigos.
Estamos diante de uma crise silenciosa. A solidão deixou de ser opção e virou hábito. Se não cuidarmos, amizades antigas se perderão, e as novas nem chegarão a nascer.
Certa vez, o escritor Boniek Ware disse que um dos maiores arrependimentos dos moribundos é não ter mantido contato com seus amigos. Esse arrependimento não é à toa.
Estudos mostram que isolamento social aumenta o risco de doenças cardíacas, demência e até mortalidade, tão prejudicial quanto fumar 15 cigarros por dia.
Por outro lado, amizades verdadeiras fortalecem a saúde física, mental e emocional.
O famoso estudo de 80 anos da Universidade de Harvard concluiu: não é a carreira nem o dinheiro que garantem felicidade, mas, sim, os relacionamentos próximos.
Amizade é como investimento: exige tempo, perdão, ligação, presença. Ontem, eu daria a vida por um amigo. Hoje, sei que a vida só vale a pena se for compartilhada com eles, meus velhos e novos amigos.
Como diria Paulo Sant’Ana: “Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos”.
* Fabio L. Borges, jornalista e cronista gaúcho