Sexta-feira, 03 de outubro de 2025

O Estado e a proteção à infância e adolescência na calamidade

Em meio à catástrofe que atinge o RS, temos visto algo positivo! Com reflexo não só no momento atual, mas como transformação cultural. Trata-se da força da sociedade civil, dos voluntários que estão fazendo o que podem para salvar e ajudar as pessoas, cujo único elo de ligação é viver de alguma forma a catástrofe.

Em países que se reergueram de guerras, o fato das pessoas terem tido necessidades semelhantes é constitutivo de uma memória coletiva de que é necessário seguridade social para tempos de crise. É difícil ver, naqueles casos, o desprezo pelo outro, como se sua miséria fosse fruto de incapacidade individual.

Porém, aqui o momento é de ir além da urgente sobrevivência. Despontam problemas de vulnerabilidade da infância. Algo que não é da enchente, mas encontra nela espaço de maximização. Situações como nos abrigos mistos, em que há denúncias de abusos; crianças perdidas à mercê de informações não confiáveis; problemas emocionais que precisam de intervenção profissional.

É hora de o Estado – previsto na Constituição Federal – ser o articulador das redes de proteção. Para além da boa vontade, é o poder público que precisa responder por sua competência e responsabilidade.

O problema é que faz um tempo (que já é longo) em que vem sendo produzido um intencional ou negligente desmonte da gestão estatal na área social. Não basta haver recursos públicos disponíveis, se não há servidores suficientes e capacitados para fazer projetos, planejar intervenções, fiscalizar ou comandar com liderança a sociedade civil.

Urge um comando de gestão. É premente a necessidade de recursos humanos capacitados, nem que seja em forma de força tarefa, que tenha capacitação para atender, avaliar, produzir dados e acionar as autoridades, quando necessário.

O trabalho a ser feito, neste momento da crise, não é apenas para sobrevivência, mas de atendimento e tratamento adequado. Logo a seguir, exigir-se-á planejamento, estratégia e reconstrução. Políticas sociais são feitas por pessoas preparadas e, principalmente, comando único na gestão!

*Ana Paula Motta Costa
Professora e vice-diretora da Faculdade de Direito da UFRGS

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Colunistas

Governo federal prepara anúncio de medidas para quem perdeu eletrodomésticos no Rio Grande do Sul
Um novo pacto pelo Rio Grande do Sul
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play