Quarta-feira, 12 de novembro de 2025

O governo trata o presidente do Banco Central como funcionário, esquecendo da autonomia da autarquia

O governo petista, como é de conhecimento geral, não se conforma com a autonomia do Banco Central (BC). Trata o atual presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, como se fosse funcionário do governo (ou bate-pau do partido, o que dá no mesmo), que ali estaria para cumprir uma missão: baixar os juros na marra, mesmo que não haja condições objetivas para isso. Como a taxa não caiu – e, a julgar pelos recentes comunicados da autoridade monetária, não cairá tão cedo –, os petistas começam a hostilizar Galípolo publicamente.

Em entrevista ao Estadão, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, foi direta: “Quando o Galípolo entrou, a gente teve condescendência”, disse a ministra.

Traduzindo: a manutenção dos juros na estratosfera pelo BC mesmo sob a direção de Galípolo, colocado ali em janeiro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi de início tolerada pelo governo porque, segundo a versão petista da época, era resultado ainda das decisões do BC na presidência de Roberto Campos Neto – que Lula tratou como o principal inimigo do Brasil.

Passado quase um ano da gestão de Galípolo, porém, a “condescendência” acabou. Para a ministra Gleisi, os dirigentes do BC têm sido “mais realistas que o rei”. E ela avisou que o governo continuará a pressionar pela queda dos juros porque “não pode deixar só o mercado pressionar” para “subir a taxa”.

O léxico petista é autoexplicativo. Na visão autoritária do PT, Galípolo está no BC para fazer o que o partido julga ser correto, sem qualquer autonomia, seja a determinada pela lei, seja a ditada pelo bom senso. Pode contar no máximo com a “condescendência” temporária dos caciques do partido. Sabendo que ano que vem é ano de eleição, Galípolo certamente saberá o que é ser alvo da intolerância petista.

Nesse sentido, roga-se que o jovem presidente do BC mantenha-se firme na sua determinação de conduzir a política monetária conforme os melhores parâmetros econômicos, e não segundo os humores de seu padrinho Lula.

Mas Galípolo terá trabalho. Na entrevista ao Estadão, a ministra Gleisi argumentou que um punhado de indicadores econômicos momentaneamente positivos são suficientes para determinar o corte na taxa. Falou em geração de emprego, PIB positivo e o que chamou de “inflação sob controle” – o que não coaduna com uma taxa acumulada de 5,17%, nos 12 meses encerrados em setembro, muito acima da meta de 3%.

O IPCA está 2,17 pontos porcentuais acima do centro da meta, alvo da política monetária do BC. Mas para o governo petista o centro da meta é uma abstração. A ministra Gleisi, seguindo o padrão do governo, comentou que a “meta de 3% também é bem apertada”. Ora, essa meta é determinada pelo próprio governo no Conselho Monetário Nacional.

Um dos principais fatores de pressão inflacionária – e que, consequentemente, provoca alta dos juros – é o descontrole fiscal do governo Lula. Se o governo fizesse sua parte, os juros já teriam caído. Mas os petistas, como sabemos, são muito condescendentes com a inflação. (Opinião/O Estado de S. Paulo)

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