Quinta-feira, 10 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 9 de julho de 2025
O Rio Grande do Sul, tradicional celeiro do Brasil, enfrenta um de seus maiores desafios. As enchentes recentes não devastaram apenas cidades e estruturas físicas, mas atingiram silenciosamente o que há de mais vital para a economia rural: o solo produtivo.
Regiões como o Vale do Taquari e a área de Santa Maria, conhecidas por sua fertilidade, viram terras aráveis construídas com esforço e técnica serem levadas ou soterradas por sedimentos inférteis. Solos férteis levam até dois séculos para se formar. A camada superficial, rica em matéria orgânica e microrganismos, é o motor da produtividade agrícola.
Perder essa camada é retroceder décadas, ou séculos, de trabalho baseado em práticas como rotação de culturas, plantio direto e cobertura verde. A reconstrução das áreas afetadas exigirá investimentos significativos e ações urgentes.
Entre as prioridades estão a recomposição das áreas degradadas, a reconstrução de sistemas de irrigação e drenagem, a reposição de insumos perdidos, o acesso a crédito rural facilitado e a liberação rápida de indenizações e seguros agrícolas. Além disso, será indispensável um diagnóstico técnico detalhado dos solos, com assistência continuada de agrônomos e especialistas para orientar a recuperação.
O papel do agricultor, com seu conhecimento prático e dedicação, será fundamental nesse processo. No entanto, sem apoio, milhares de famílias rurais correm o risco de não conseguir retomar suas atividades. A perda da capacidade produtiva representa não só renda zero ou reduzida, mas também maior endividamento, insegurança alimentar, êxodo rural e impactos emocionais profundos.
Os efeitos das enchentes vão além do campo. A queda na produção de grãos, frutas, hortaliças e forragem afeta toda a cadeia produtiva, pressionando o abastecimento, elevando preços e prejudicando o consumidor. Indústrias, comércios e serviços ligados ao agronegócio já enfrentam perdas. O impacto no PIB estadual e na arrecadação pública também será significativo, com reflexos na geração de empregos e nos investimentos sociais.
A recuperação da agricultura gaúcha não será imediata. Trata-se de um esforço coletivo de longo prazo, que exigirá união entre governos, setor privado, universidades, entidades de classe e, sobretudo, da comunidade rural. Mais do que reconstruir estradas e estruturas, será preciso restaurar a fertilidade do solo e a dignidade de quem vive da terra.
(Jeferson Ferreira é presidente do ITAQE – Instituto de Tecnologia Agrícola, Qualificação e Estudo)