Segunda-feira, 21 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 20 de julho de 2025
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acordou com o celular mais cheio de mensagens do que o habitual na manhã daquela quarta-feira, 25 de junho. O chefe da equipe econômica já estava dormindo quando, às 23h55 da noite anterior, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciara pelas redes sociais que colocaria em votação o decreto legislativo para sustar o do governo que elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Ficava claro ali para Haddad e seus colegas no Palácio do Planalto que a tentativa de se construir um acordo com os parlamentares em torno da taxação havia caído por terra e a cúpula do Congresso estava mesmo decidida a entrar em rota de colisão com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
O prognóstico se confirmou dois dias depois com uma derrota humilhante para os governistas no plenário da Câmara dos Deputados, por 383 votos a 98.
Haddad estava inconformado. E, ao falar com Lula, encontrou um presidente igualmente indignado. Motta mostrara-se inconfiável aos olhos dos petistas. Em pouco tempo e sem aparente explicação, saíra de uma postura “colaborativa”, como interlocutores de Lula vinham classificando, para tornar-se o capitão de um profundo desgaste para o governo.
Horas depois de o IOF ser derrubado no Congresso, Lula decidira dar aval à estratégia sugerida por Haddad: era preciso brigar pelo IOF até o fim e levar o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF).
O episódio é visto por integrantes do governo como um ponto de virada na crise do IOF e na relação do ministro com outros colegas de Esplanada, que dizem ver o chefe da equipe econômica saindo maior do que entrou na disputa e restabelecendo o lugar de “homem forte” de Lula.
De início, a medida do IOF foi criticada por integrantes da Casa Civil, comandada por Rui Costa, e outros auxiliares presidenciais. Parecia mais uma frente de desgastes que se somava às crises do Pix e da tributação das compras internacionais (taxa das blusinhas), todas vistas como da “lavra da Fazenda” e citados com frequência como fundamentais para o atual desgaste de Lula junto à população.
‘Taxad’
O jogo, porém, mostrou-se diferente desta vez. Para Lula, o Congresso não estava só questionando a política econômica de Haddad, mas tentava avançar sobre as prerrogativas presidenciais. Era preciso delimitar espaços. E a melhor forma de fazê-lo era defendendo a proposta de seu ministro da Fazenda.
Além disso, Haddad, que vinha sofrendo desgaste com a pecha de “Taxad” por sua agenda de alta de impostos, conseguiu empacotar a medida numa mensagem de fácil absorção para petistas e com potencial popular: a briga contra o “andar de cima”.
A batalha com o Legislativo e o respaldo de Lula na briga pelo IOF trouxeram um amparo à agenda de Haddad dentro do governo que o time da Fazenda ainda não havia experimentado ao longo do mandato de Lula.
— A promessa do presidente foi a de colocar o pobre no Orçamento e o rico no Imposto de Renda. A sociedade inteira entende esse recado: o que Haddad está fazendo com a isenção no IR e a taxação dos super–ricos nada mais é do que ajudar o presidente a colocar em prática a promessa de 2022 — diz o ministro da Controladoria-geral da União, Vinicius Carvalho.
A estratégia de subir o tom contra os “bilionários”, defender a bandeira da “justiça tributária” e judicializar o IOF fora amarrada por Haddad com o presidente em uma série de conversas, incluindo encontros a sós no Palácio da Alvorada.
Com o aval de Lula, o ministro da Fazenda já começara a subir o tom em falas públicas e entrevistas. Foi assim quando, em audiência na Câmara, no início de junho, chamou deputados bolsonaristas de “moleques” e disse que os moradores da “cobertura do prédio” deveriam passar a pagar condomínio da mesma forma que o zelador. O tom repetiu-se em entrevistas nos dias que se seguiram.
As falas foram então testadas pelo PT, que pegou dois trechos de declarações de Haddad e impulsionou nas redes, pagando para que eles ganhassem tração. A resposta foi boa, e o partido decidiu investir numa série de peças publicitárias com o mote da defesa da justiça tributária, usando inteligência artificial e defendendo a briga contra os “BBBs”: “bilionários, bancos e bets”. As informações são do portal O Globo.