Quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

O novo tratamento que vem salvando pacientes com leucemia: “Ficção científica alguns anos atrás”

Uma terapia que antes parecia coisa de ficção científica tem revertido cânceres sanguíneos agressivos e incuráveis em alguns pacientes, afirmam médicos. O tratamento envolve editar com precisão o DNA de glóbulos brancos para transformá-los em um “medicamento vivo” capaz de combater o câncer.

A primeira paciente tratada, cuja história foi publicada em 2022, continua livre da doença e agora planeja se tornar pesquisadora na área de oncologia.

Até agora, outras oito crianças e dois adultos com leucemia linfoblástica aguda de células T já receberam o tratamento, e quase dois terços (64%) dos pacientes estão em remissão (isso significa que não há mais sinal de câncer após o tratamento, mas isso não significa que ele não voltará mais).

As células T funcionam como defensoras do corpo — buscam e eliminam ameaças —, mas, nessa forma de leucemia, crescem de forma descontrolada.

Para os participantes do estudo, quimioterapia e transplantes de medula óssea não funcionaram. Além do medicamento experimental, restava apenas oferecer mais conforto no fim da vida.

“Eu realmente achava que ia morrer e que não teria a chance de crescer e fazer tudo o que qualquer criança merece fazer”, diz Alyssa Tapley, de 16 anos.

Ela foi a primeira pessoa no mundo a receber o tratamento no Great Ormond Street Hospital, em Londres, e agora leva uma vida normal.

O procedimento revolucionário de três anos atrás envolveu eliminar seu antigo sistema imunológico e construir um novo. Durante quatro meses no hospital, ela não pôde ver o irmão, para não correr risco de infecção.

Hoje, o câncer de Alyssa é indetectável, e ela precisa apenas de exames anuais. Ela faz os A-levels (exames finais do ensino médio no Reino Unido), participa do Duke of Edinburgh Award (programa de desenvolvimento juvenil), planeja aulas de direção e planeja seu futuro.

A equipe da University College London (UCL) e do Great Ormond Street Hospital usa uma tecnologia chamada base editing (edição de bases, em tradução livre).

As bases são a linguagem da vida. Os quatro tipos — adenina (A), citosina (C), guanina (G) e timina (T) — formam os blocos do nosso código genético. Assim como as letras do alfabeto compõem palavras com significado, os bilhões de bases no DNA escrevem o manual de instruções do corpo humano.

A “edição de bases” permite aos cientistas acessar um ponto exato do código genético e alterar a estrutura molecular de uma única base, convertendo-a em outro tipo e reescrevendo esse manual.

O objetivo dos pesquisadores era usar a capacidade natural das células T saudáveis, naturalmente programadas para localizar e destruir ameaças, e direcioná-las contra a leucemia linfoblástica aguda de células T.

É um desafio complexo. Eles precisaram modificar as células T saudáveis para que identifiquem as células doentes sem que o tratamento se destrua.

Eles começaram com células T saudáveis de um doador e começaram a modificá-las.

A primeira edição de base desativou o mecanismo de alvo das células T, impedindo que atacassem o corpo da paciente.

A segunda removeu o marcador químico CD7, presente em todas as células T, etapa crucial para evitar a autodestruição da terapia.

A terceira edição criou uma “capa de invisibilidade”, impedindo que as células fossem destruídas por um quimioterápico.

Na etapa final, as células T foram instruídas a atacar qualquer célula com o marcador CD7.

Assim, as células modificadas destruiriam todas as outras células T que encontrassem — cancerosas ou não —, mas não atacariam umas às outras.

A terapia é aplicada por infusão e, se o câncer não é detectado após quatro semanas, o paciente recebe um transplante de medula óssea para reconstruir o sistema imunológico.

“Até poucos anos atrás, isso seria ficção científica”, diz o professor Waseem Qasim, da UCL e do Great Ormond Street.

O estudo, publicado na revista científica New England Journal of Medicine, apresenta os resultados dos primeiros 11 pacientes tratados no Great Ormond Street e no King’s College Hospital. E mostra que nove alcançaram remissão profunda, o que lhes permitiu passar por um transplante de medula óssea.

Sete permanecem livres da doença entre três meses e três anos após o tratamento.

Um dos maiores riscos da terapia são infecções enquanto o sistema imunológico é eliminado.

Em dois casos, o câncer perdeu suas marcações CD7, permitindo que se escondesse do tratamento e reaparecesse no organismo. (Com informações da BBC)

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