Domingo, 15 de junho de 2025

O número de matrículas em curso superior por meio do Programa Universidade para Todos vem recuando consecutivamente desde 2020

Criado há 20 anos, Programa Universidade para Todos (ProUni)beneficiou milhares de estudantes, mas a queda em número de matrículas sinaliza que a iniciativa precisa ser reformulada para refletir melhor o mundo atual. O número de matrículas em curso superior por meio do ProUni vem recuando consecutivamente desde 2020.  No ano passado, de acordo com o Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior, o ProUni ofereceu 651 mil bolsas, mas apenas cerca de 30% foram utilizadas.

Instituído em 2005, o ProUni já beneficiou quase 3,5 milhões de estudantes brasileiros. O programa oferece bolsas de estudo parcial e integral para alunos de baixa renda.

É inegável que iniciativas para estimular o acesso à educação num país tão desigual e injusto quanto o Brasil é uma necessidade. Por meio do ProUni, famílias que há gerações estiveram barradas do ensino superior finalmente viram um ou mais de seus membros conquistarem o tão sonhado diploma, experiência que pode ser um divisor de águas nos níveis de renda e bem-estar.

A queda constante no número de matrículas via ProUni sinaliza, contudo, que o programa deve ser revisitado, de modo a refletir melhor as necessidades de um mundo em que o acesso ao conhecimento e ao mercado de trabalho passa por rápida transformação.

Em diversos países do mundo, jovens da chamada geração Z (formada por nascidos entre 1995 e 2010) têm demonstrado inquietação com o futuro. Embora seja considerada supereducada em comparação aos baby boomers, como é chamada a geração nascida no pós-guerra, entre 1946 e 1964, a geração Z demonstra extrema angústia com o custo de vida e com a dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Não raro, sente-se traída porque, a despeito de ter se dedicado aos estudos, não se vê recompensada por seus esforços.

Comprar um imóvel ou pagar aluguel é bem mais caro hoje do que foi para os boomers, ainda que em termos de instrução formal a geração dos filhos do pós-guerra seja menos privilegiada que a dos jovens da geração Z.

No Brasil, os problemas se sobrepõem. Durante décadas, valeu a máxima de que um diploma universitário era a chave para a prosperidade. O conhecimento é indubitavelmente uma jornada transformadora, que oferece aos mais diferentes indivíduos meios de entender melhor sua própria condição.

Mas a elevada expectativa que se colocou no acesso ao ensino superior gera extrema frustração quando, ao fim de um curso universitário, o jovem de família pobre se depara com a realidade de um mercado de trabalho que para ele permanece inacessível, apesar da promessa de que, se se esforçasse, seria recompensado com um bom cargo e boa renda.

Isso se dá por diversas razões. Seja porque a qualidade do curso escolhido não era boa o suficiente para que o formado conquistasse um emprego promissor, seja porque a educação de base do estudante não lhe permitiu acompanhar as aulas do curso superior de forma satisfatória, ou seja, ainda, porque a faculdade escolhida não está em sintonia com as necessidades de uma economia global em acelerada transformação.

Por fim, o fato de que o aumento da escolaridade do brasileiro, nas últimas décadas, não se traduziu em aumento da produtividade do trabalhador só corrobora a necessidade de que políticas públicas como o ProUni sejam aperfeiçoadas.

Uma das críticas que se fazem ao programa, e que ajudaria a explicar a queda no volume de matrículas, está relacionada ao fato de que as bolsas disponíveis são para cursos de pouca demanda, ou seja, sobram vagas que ninguém quer. Adequar a oferta dos cursos às necessidades dos estudantes e do mercado de trabalho é um primeiro passo para que o programa seja efetivamente benéfico para o País.

Também é essencial reconhecer que nos últimos anos tem crescido entre a população o desejo de empreender, atividade que não exige curso superior, especialmente em época em que o conhecimento já não está circunscrito aos muros das universidades.

E há ainda o fato de que cursos técnicos de duração menor muitas vezes oferecem aos estudantes uma formação mais sólida e orientada que a de faculdades de quatro ou cinco anos cuja existência não faz lá muito sentido.

Embora a experiência de duas décadas do ProUni tenha produzido frutos, repensar o programa é essencial para que ele se mantenha relevante no futuro. As informações são do portal Estadão.

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