Sexta-feira, 05 de dezembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 5 de dezembro de 2025
Quem nasceu no período das gerações Baby Boomers ou X vai lembrar o que significava acompanhar as cerimônias de entrega do Oscar. Eu, particularmente, me lembro com muita clareza da edição de 1981, quando o vencedor de melhor filme foi Gente como a Gente.
Lembro, pois a premiação iria acontecer no dia 30 de março, uma data fixa na minha agenda, e foi adiada por 24 horas devido à tentativa de assassinato do então presidente Ronald Reagan. O evento acabou sendo realizado no dia seguinte.
Naquele ano, até 1988, a frase utilizada para anunciar o ganhador era “o vencedor é …” No ano seguinte, até hoje, a frase que virou um bordão popular, positivo ou negativo, é “o Oscar vai para …”.
A mudança foi implementada com o objetivo de enfatizar que todos os indicados já eram considerados vencedores por estarem ali, evitando a ideia de uma competição direta onde haveria “perdedores”.
Aliás, na minha vivência com premiações nos segmentos associativistas de marketing ou propaganda, eu também combato uma expressão inadequada: “a empresa tal ganhou…”. Não ganhou! Conquistou! Voltando à frase atual do Oscar, a mesma é utilizada de forma irônica ou crítica para “premiar” simbolicamente alguém ou uma marca por um feito negativo, ou práticas desrespeitosas com consumidores e clientes.
É indiscutível que, no mundo do marketing e das relações de consumo, a ironia com a frase vira um carimbo terminando com a reputação de um CPF ou CNPJ. Ou muda ou os clientes exercem a democracia das pernas. Na maioria esmagadora dos casos, isso acontece. Em alguns poucos, não. É o caso do Uber.
A plataforma vira as costas para todos os pilares de sustentação desse que é um dos ativos mais valiosos e difíceis de construir. Para termos uma ideia, os mais de 100 mil clientes que registraram suas críticas no Reclame Aqui, no último ano, comprovam isso.
Vejam:
A Uber não ouve, não responde. Os números falam por si só. De novembro de 2024 a novembro de 2025, foram realizadas 105.120 reclamações no Reclame Aqui. Zero respostas! Desse universo, os principais problemas são: 41,61% Cobrança Indevida; Estorno de Valor Pago 11,57% e Problemas com Motorista 7,12%.
A empresa não é transparente. Se não atende, deve usar como trilha do seu filme a clássica “Tô nem aí”, que virou hit de uma série da TV brasileira e foi usada em um criativo comercial da Chevrolet em 2004.
O aplicativo não cuida da sua imagem. Diante do acima referido, não preciso detalhar os porquês do seu não cuidar de imagem e reputação. Para além do RA existem inúmeros casos de clientes que procuraram canais do mesmo e tiveram zero de resolutividade.
Alguém dirá que a empresa tem um porte gigantesco e é um segmento novo no mercado. Que ainda irá evoluir. Pergunto: dez anos, novo?
Se fará, vai fazer tarde. Deveria aprender com seu concorrente direto. Me refiro ao 99. No RA, o raio X da marca dá de 9,9 a 0 no Uber. Para comparar, o aplicativo teve nos últimos 12 meses 78.960 reclamações, respondeu 78.235 Ou seja, 99,1 % das reclamações. Índice de solução de 68,9%. Espero que continue assim.
Portanto na minha opinião, como consumidor e “jurado”, o Uber deveria receber o prêmio Framboesa de Ouro, a tradicional paródia do Oscar que aponta os piores filmes do ano um dia antes do mesmo. Seria o Kirk Cameron’s Saving Christmas, que venceu em 2015, ano que o Uber “Tô nem Aí” chegou em Porto Alegre. Já o Oscar, na próxima edição vai para a 99. O equivalente “Spot light – Segredos Revelados” vencedor em 2016 quando a empresa iniciou o serviço “99POP”.
Pra finalizar uma dica: exerça a nova democracia. A da palma da mão. Assim você não precisará ser jurado do Framboesa de Ouro em 2026.
* Gil Kurtz é publicitário e vice-presidente do Fórum Latino-americano de Defesa do Consumidor