Sábado, 19 de julho de 2025

O PL do Desmatamento e o descaso ambiental dos governos

Em meio à maior crise climática da história recente do Brasil, quando o Rio Grande do Sul ainda se recupera das trágicas enchentes e milhares de famílias seguem desabrigadas, o Congresso Nacional escolhe mirar na direção oposta à da preservação ambiental.

Em vez de priorizar ações de contenção, prevenção e adaptação climática, parlamentares avançam com o chamado PL do Desmatamento — um retrocesso grave que escancara a falta de compromisso estrutural com o meio ambiente.

Esse projeto de lei, disfarçado sob o argumento da “segurança jurídica para o produtor rural”, propõe, na prática, flexibilizar regras de proteção da vegetação nativa, reduzindo a fiscalização e anistiando desmatamentos ilegais. É uma tentativa clara de enfraquecer o Código Florestal, abrir brechas para a grilagem de terras e premiar quem age à margem da lei ambiental.

Trata-se de um ataque direto aos biomas brasileiros — em especial à Amazônia e ao Cerrado —, justamente em um momento em que o mundo inteiro cobra mais responsabilidade dos países diante das mudanças climáticas. O Brasil, ao invés de liderar o debate pela sustentabilidade, escolhe seguir na contramão, rifando seu patrimônio natural em nome de interesses imediatistas.

A omissão não é exclusiva do Congresso. Governos estaduais e o próprio governo federal têm sido, muitas vezes, coniventes com retrocessos ambientais. As ações são tímidas, fragmentadas e frequentemente contraditórias. Promete-se proteção ambiental em discursos internacionais, mas por aqui seguem as queimadas, o avanço do garimpo ilegal e a redução de recursos para órgãos como o Ibama e o ICMBio.

Os impactos disso são visíveis. A crise climática deixou de ser previsão futura: ela já está aqui, afetando diretamente vidas, economias e ecossistemas. Quando o Estado falha em proteger o meio ambiente, ele falha em proteger as pessoas. Os mais pobres, os indígenas, os agricultores familiares, os moradores de áreas vulneráveis são os primeiros a pagar o preço da destruição ambiental institucionalizada.

É preciso dizer com todas as letras: o PL do Desmatamento é um projeto de destruição. E todo parlamentar que vota a favor dele assume a responsabilidade por futuros desastres naturais, pela perda da biodiversidade e pelo agravamento das condições de vida no país.

Em vez de desmontar a legislação ambiental, o Brasil precisa avançar. Precisamos de políticas de reflorestamento, transição energética, incentivos à agroecologia, proteção aos povos originários e educação ambiental. Precisamos de compromisso de verdade — não só para agradar plateias internacionais, mas para garantir futuro para as próximas gerações.

O meio ambiente não é um entrave ao desenvolvimento. Ao contrário: é a base de qualquer projeto de país soberano, justo e sustentável. Desmatar hoje é empobrecer o amanhã.

* Guto Lopes, jornalista da Rede Pampa

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Colunistas

Falsos representantes usam nome da Conab para aplicar golpes em diferentes estados
“Projeto Terra – Eu sou Cohab” pretende regularizar de mais de 60 mil unidades imobiliárias
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play