Terça-feira, 08 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 8 de julho de 2025
No Brasil, a promessa constitucional de segurança como direito de todos e dever do Estado tem sido cada vez mais desmentida pelos fatos. A tragédia recente no município de Estação, no Rio Grande do Sul, escancara essa dura realidade. Uma criança foi brutalmente esfaqueada por um adolescente que invadiu uma escola — um espaço que, em tese, deveria ser protegido, seguro e acolhedor. Não se trata de um evento isolado.
Nos últimos anos, uma série de ataques em instituições de ensino tem abalado o País, revelando a crescente vulnerabilidade desses espaços diante da violência. O caso de Estação, contudo, reacende um debate urgente: o poder público está falhando gravemente na proteção de seus cidadãos, especialmente dos mais vulneráveis — nossas crianças.
As escolas, por definição, deveriam ser ambientes de aprendizado, desenvolvimento e segurança. No entanto, elas vêm se tornando alvo fácil da violência, seja por omissão das autoridades ou pela ausência de políticas públicas eficazes de prevenção.
Onde estão os protocolos de segurança? Onde estão os investimentos em infraestrutura, em vigilância, em capacitação de profissionais e em apoio psicológico aos alunos e suas famílias? É preciso reconhecer que segurança pública não se resume ao patrulhamento ostensivo ou à repressão após o crime.
Segurança começa com a prevenção — e isso inclui o fortalecimento da rede de proteção social, o combate à evasão escolar, o acolhimento de jovens em situação de vulnerabilidade e a atenção à saúde mental. Quando um adolescente comete um ato tão grave como o ocorrido em Estação, há falhas acumuladas em diversos níveis do sistema: na família, na escola, na assistência social e, principalmente, no poder público.
A omissão do Estado diante dessa realidade custa caro — e quem paga são, quase sempre, os mais indefesos. A criança esfaqueada em Estação, seus colegas, professores e familiares viverão com as marcas desse episódio por toda a vida. E ainda assim, a reação das autoridades muitas vezes se limita a notas de pesar e promessas de apuração, quando o que se exige são medidas concretas, estruturais e urgentes.
Não podemos mais aceitar que a segurança de nossas crianças seja deixada à mercê da sorte. É papel do poder público garantir políticas efetivas de proteção, com planejamento, investimento e responsabilidade. Isso inclui a instalação de sistemas de monitoramento em escolas, a criação de protocolos de emergência, o fortalecimento da rede socioassistencial e a promoção de uma cultura de paz dentro e fora das salas de aula.
A sociedade civil, por sua vez, precisa cobrar, participar e resistir à naturalização da violência. Não podemos nos conformar com o medo como parte do cotidiano escolar. O caso de Estação é um grito de alerta — e deve ser tratado como tal. Que não se transforme em mais um número em estatísticas frias. Que sirva de marco para mudanças reais. O poder público precisa agir.
E precisa agir agora.
(Ronaldo Nogueira de Oliveira é deputado Federal e ex-ministro do trabalho que realizou a modernização trabalhista e criou a carteira de trabalho digital)