Sexta-feira, 22 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 21 de agosto de 2025
A prática do futebol não é mais o nosso “esporte” preferido. Nossa preferência cultural na atualidade nem é um esporte, mas sim a dramaturgia popular.
Somos agora praticantes do “esporte” da dissimulação , do “faz de conta”, do fingimento. A estratégia de fingir a aceitação algo que não concordamos, para não se incomodar. Tornamo-nos mestres na arte da representação teatral, fazendo de conta que está tudo bem.
São dois universos:
O mundo do “faz de conta” , do uso de expressões politicamente corretas, nos mantemos “na linha”, sem sofrer críticas e consequências.
E o mundo real, onde mergulhados em nossas convicções ou, no máximo, na companhia de alguém de “confiança”. Olhamos para os lados e com a mão na boca, para evitar leitura labial e adjetivamos baixinho .
Olha “aquilo”…
É tão difícil admitir os nossos fingimentos, que fingimos até que não estamos fingindo! O que era para ser “politicamente correto” passou a ser “juridicamente exigido”.
A forma como encontramos de nos defender deste “aleijume cultural” foi apelar para o fingimento, fomos todos para a dramaturgia. Passamos a concorrer ao prêmio Oscar de melhor ator!
Por falar em filmes , o filósofo Luiz Felipe Pondé nos recorda um clássico do cinema “Platoon. No filme, o general expulsa da barraca-hospital um soldado diagnosticado com a síndrome ( emotional breakdown).
O general, esbravejando, diz que aquele lugar, no caso o hospital de campanha, é um “templo de heróis” e não lugar de soldados covardes!
O filme levanta a discussão. A valentia é uma virtude ? E a covardia é uma fraqueza humana ?
Adjetivos como: covarde, gordo, careca, aleijado, anão, caolho, maneta ou perneta e outros tantos foram sendo banidas do nosso vocabulário.
Essa tentativa de mudança forçada de comportamentos, e sem mudar os nossos valores e conceitos, deu nisso. E o que era para ser politicamente correto (forma educada), passou a ser obrigatório, e o uso das expressões populares tornaram-se termos juridicamente condenáveis !
Deixemos que as expressões “careca” ou “aleijado” e tantas outras morram sozinhas, ao seu tempo e de morte natural.
As obras do escritor Monteiro Lobato foram criticadas por conter expressões que atualmente são consideradas agressivas e queriam banir as obras ou reescrevê-las.
A obra está dentro de um contexto histórico, e é assim que deve ficar, sob pena de descaracterizar uma época, um pensamento coletivo, independente, de certo ou errado.
Na época , era como as pessoas se comportavam (certo ou errado) e assim era o mundo. Apagar isso é apagar a própria história !
Vamos tentar olhar pelo lado inverso da questão. O STF já declarou que a prostituição é uma profissão, porém, não regulamentada.
Se está dito que é profissão, então chamar alguém de filho da p…. não seria mais uma ofensa ? É óbvio que é ofensivo. Mas quem sabe se lá no futuro não mais o seja?
Lembro-me do caso envolvendo o então governador Brizola e o deputado e cantor Agnaldo Timóteo. Em uma discussão acalorada, Brizola chamou o deputado de “negro filho da p…”
Timóteo processou Brizola por racismo. Ao meu ver, a expressão “negro” era a única verdade na agressão verbal do governador Brizola. E nem deveria ser ofensa, qual o problema de uma pessoa ter mais melanina ?
Mas Timóteo sentiu-se ofendido em algo que tornou-se ofensivo por uma contingência histórica. Só isso.
Quando se trata de ofensa à honra e à moral da pessoa, daí sim, cabe o processo e a justa reparação se for o caso.
As palavras têm uma representação que podem se alterar naturalmente ao longo dos anos. Estão intimamente ligadas aos conceitos que expressam naquele tempo vivido.
Proibir expressões ou palavras é tirar a riqueza da língua e sua natural evolução, é alterar costumes de quem a fala e as escreve.
É só uma opinião, espero não tê-lo ofendido.
* Rogério Pons da Silva, jornalista e empresário
rponsdasilva@gmail.com