Terça-feira, 25 de março de 2025

O presente da insônia

Insônia.

Tentei dormir novamente, mas a mente estava a mil. Minha cabeça virginiana listava um sem-fim de tarefas a cumprir, enquanto meu corpo de mãe se espremia no cantinho da cama que restou para mim (e é uma cama king… veja que ironia).

Depois daquela cena clássica de virar para todos os lados possíveis, contar carneirinhos e fazer respiração profunda (é ou não é angustiante?), cheguei à conclusão de que isso só iria me estressar mais. Então, resolvi levantar — mesmo sabendo que, na sala, uma pug faminta (por comida e por amor) já estaria me esperando.

Eu não sei qual é o grande mistério que cerca esse momento. Se o seu corpo resolveu que “não tem mais cabeça” para dormir (sacou o trocadilho?), por que lutamos tanto contra isso? Acabamos gerando mais uma ansiedade: a sensação de que não estamos cumprindo a meta estabelecida de sono.

O fato é que, na busca por uma melhor qualidade de vida, precisamos cuidar para não nos afogarmos na série de supostas diretrizes que assimilamos como sendo imprescindíveis para a conquista da plenitude: alimentar-se da forma mais natural possível, meditar, usar óleos essenciais, fazer exercícios de respiração, tomar muita água, seguir o ciclo circadiano e dormir junto com o sol, cortar glúten, lactose, açúcar e álcool (pasme), fazer exercício físico, estimular o pensamento positivo, tirar a maquiagem antes de dormir, investir nas boas relações afetivas, abraçar o manjericão. Só para falar de algumas. Parece muito para você? Pois acredite que eu, euzinha, só não consigo cumprir duas delas (quem adivinha quais?).

O desafio é inserir esses “upgrades” de atitude na sua rotina, de forma que se torne um hábito e, por que não, um estilo de vida. Como instalar o software e atualizar a programação mental de forma automática, porque o sistema assim roda melhor, de forma mais eficiente. E não apenas porque “é assim que dizem que tem que ser”. É como escovar os dentes: a criança combate, mas depois se torna um hábito e nem sente.

Todo esse raciocínio para explicar que me permiti ouvir o chamado do meu corpo e pular da cama. “Danem-se as minhas 6 horas e meia de sono. Deve haver algo esperando por mim”.

E aí… fui presenteada com o nascer do sol mais lindo: o da minha janela. Pelos meus olhos, aquela profusão de laranjas, azuis e púrpuras invadindo a noite, iluminando o céu, enquanto as últimas estrelas ainda cintilavam.

O nascer do sol tem algo de profundamente simbólico. A energia da vida, cíclica, acontecendo mais uma vez. Permitindo recomeços. Trazendo a esperança diária. Confesso que foi um momento lindo, espiritual.

Assim como também reconheço que, se tivesse a obrigação de acordar todo-santo-dia cedo assim, eu provavelmente não acharia legal. Mas aí é porque o ser humano tem dessas: o que é rotineiro entedia. A gente para de observar com olhos curiosos e começa a viver em uma forma de cegueira, causada por essa lente embaçada chamada “vida de adulto”.

Por isso, talvez seja o caso de, às vezes, deixar de cumprir suas próprias convicções e se deixar surpreender. Você pode reclamar por acordar cedo… ou ser grato pelos presentes que acordar (vivo) te dá.

Ali Klemt

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