Quinta-feira, 21 de agosto de 2025

O protecionismo de Trump e a pressão interna nos Estados Unidos

A volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos em 2025 recoloca o país no centro de um debate clássico: até que ponto o protecionismo econômico pode fortalecer uma nação — ou fragilizá-la? O recente aumento dos preços da carne bovina expôs de forma prática os limites da estratégia.

Em julho de 2025, o preço da carne bovina nos EUA registrou alta de 11,3% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Alguns cortes, como o bife cru, chegaram a custar US$ 11,88 por libra, o equivalente a R$ 143 por quilo. A carne moída, produto de consumo mais popular, subiu 15,3% em apenas seis meses, alcançando US$ 6,34 por libra (cerca de R$ 75 por quilo).

A razão principal é a tarifa de 50% sobre a carne importada do Brasil, um dos maiores fornecedores do mercado americano. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, a medida deve reduzir em 400 milhões de libras (cerca de 180 mil toneladas) o volume de carne importada neste ano. A oferta doméstica, já pressionada por secas e pela redução de rebanhos, não conseguiu compensar a lacuna — gerando inflação de custos e insatisfação de consumidores e empresários.

A reação interna foi imediata. Setores da indústria, do varejo e da agricultura pressionam a Casa Branca diante do impacto negativo sobre custos e margens. O Partido Democrata, por sua vez, não conseguiu capitalizar politicamente a insatisfação, dado o descrédito acumulado junto ao eleitorado.

O problema é estrutural. O plano econômico do governo Trump, desenhado por seu economista-chefe, prevê um pacote ousado: choque de tarifas, desvalorização do dólar, criação de um fundo anual de US$ 200 bilhões em ouro e bitcoins, alongamento forçado da dívida pública para prazos de até 100 anos, isenção de impostos para bilionários e reorganização do comércio internacional para atrair investimentos industriais.

A lógica lembra a política do presidente William McKinley, em 1897, quando o protecionismo era visto como caminho natural para consolidar a industrialização nascente dos EUA. Mas, naquele tempo, a realidade era outra: cadeias produtivas ainda estavam em formação, a economia americana não carregava o atual nível de endividamento e a globalização do capital não existia.

Hoje, o cenário é inverso. As cadeias produtivas são altamente interdependentes, as multinacionais dominam fluxos de capital e tecnologia e a interconexão dos mercados não permite experimentos isolacionistas sem custos imediatos. O plano de Trump tende a gerar inflação estrutural — que não será compensada pela desvalorização do dólar —, forçando elevação de juros e desequilibrando ainda mais a economia.

Além disso, o protecionismo alimenta ineficiência e reduz a competitividade da produção americana no comércio global. Se em 1897 os EUA podiam crescer protegendo sua indústria, em 2025 a mesma estratégia parece um anacronismo perigoso.

A pressão interna contra o governo já começou, mas Trump mantém sua estratégia “panzer”, movida por convicção e vaidade. O risco é que, em nome de fortalecer os EUA, seu governo acabe por enfraquecê-los na arena internacional e impor ao cidadão comum o peso imediato da conta — já visível na gôndola do supermercado.

* Guto Lopes, comunicador da Rede Pampa de Comunicação

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Colunistas

O politicamente incorreto
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play