Domingo, 24 de agosto de 2025

O próximo poço, senhor!

Atendi ao telefone, era a minha nova namorada.

Estava ansioso por notícias, pois havia conhecido seus pais dela no dia anterior.

A namorada, um pouco sem jeito, começou uma conversa estranha, de muitos estudos e compromissos e que o namoro não iria poder continuar,

Educada, bem formal , pôs fim ao namoro por telefone mesmo.

Como se dizia, fui dispensado!

Fiquei pensando no diálogo que tive com o pai da moça no dia anterior. Será que havia dito alguma coisa errada , qual teria sido a razão (?), já que tudo parecia estar indo tão bem…

Passou.

Meses depois, já com novo romance em vista e candidato a outra namorada, aceitei o seu convite e fui à sua casa.

Depois das apresentações formais e conversas protocolares , o “futuro sogro”, questionou-me:

– Então, meu jovem… que você faz na vida?

Ahááá!!

Este ponto, ao meu juízo, era o “forte” da minha conversa! Algo tão diferente e único:

– Fabrico perfuratrizes e ferramentas para perfuração de poços!!

Disse-lhe de peito estufado de orgulho.

A réplica veio na hora!

O homem coçou o queixo e expressou um…

– Sei…

Fez uma breve pausa e disparou:

– Meu jovem! E quando esse poço estiver pronto? O que você vai fazer da vida?

Assombrado com a pergunta, fiquei sem resposta, um silêncio revelador me dizia que algo relacionado com meu trabalho não estava indo bem.

No outro dia, a candidata a namorada alegando problemas particulares, também terminou por telefone, o que nem havia começado.

Ali, entendi que a profissão que abracei e tanto me orgulhava me fazia correr risco de ficar celibatário.

Esse meu particular desabafo tardio e certamente muitos peculiar é o preâmbulo para te contar que:

Nos anos 1970, a atividade de perfuração de poços de água era muito incipiente.

Não havia quase conhecimento algum a respeito de poços tubulares, e por conta dos antigos poços cavados foi sempre cercada de mistérios e muitas fantasias e folclore.

Quase todo mundo tem uma história de poço pra contar.

A vida seguiu, e nestes quase 50 anos de atividade profissional no ramo, assisti e presenciei muitas histórias do setor, a evolução tecnológica e principalmente a compreensão das pessoas do real valor da perfuração de poços profundos e das águas subterrâneas.

Passei por inúmeras estiagens severas, onde os poços tubulares reafirmaram o que sempre foram: A melhor alternativa da sociedade para ter acesso ao segundo elemento imprescindível à vida:

A água. E água potável!

Por fim, agora, passado apenas um ano da tragédia que colocou o RS de joelhos nas enchentes, a alternativa poço tubular profundo se revela, mais uma vez aos nossos olhos, como a melhor, mais segura e econômica fonte de acesso à água potável, desde que, por óbvio, haja planejamento!

Os profissionais da área de perfuração de poços tubulares merecem todo reconhecimento da sociedade gaúcha.

Sem a infraestrutura preexistente de poços tubulares, a tragédia das enchentes teria proporções inimagináveis!

Os perfuradores de poços, heróis invisíveis! Tão invisíveis como os seus poços em uma paisagem verde e exuberante, a estes profissionais, o meu respeito e reconhecimento.

E quanto ao pai da moça lá do início, vai a resposta com um pouco tardia:

– O próximo poço, senhor!

Rogério Pons da Silva – Jornalista e empresário

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