Sábado, 05 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 4 de julho de 2025
Depois que os parlamentares derrubaram a alta no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o governo entrou em modo de combate. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recorreu ao Supremo e chamou a decisão de “absurda”.
O PT ampliou a propaganda em prol da taxação dos “super-ricos”. Tomaram conta das redes sociais de inclinação petista vídeos alvejando o Parlamento, em particular o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Num deles, Motta é exibido como defensor de menos imposto para ricos e de “congelar” o salário mínimo. Noutro, mais agressivo, o Congresso é tachado de “inimigo do povo”.
Nem todos os vídeos foram endossados pelo governo ou pelo PT. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, desautorizou ataques a Motta: “Não é assim que vamos construir saídas para o Brasil, dentre as quais se destaca a justiça tributária”. Apesar da tentativa de apaziguar ânimos, militantes atenderam ao apelo pela radicalização ocupando um banco na Avenida Faria Lima, em São Paulo. Depois do primeiro vídeo, e antes dos demais, a oposição reagiu com uma paródia. Ninguém deve cair na armadilha de ser arrastado a uma batalha em que o país só perde. O “nós contra eles” aponta um caminho perturbador.
Não é anódino o emprego da expressão “inimigo do povo”. Usada contra cristãos no Império Romano, ela foi gravada em lei pela Revolução Francesa como justificativa para arbítrios que acabavam na guilhotina. Soviéticos a empregavam para estigmatizar dissidentes. Mais recentemente, foi adotada pela extrema direita para intimidar jornalistas e a imprensa profissional.
O ataque se torna mais grave quando voltado ao Parlamento, instituição fundamental em toda democracia. É evidente que o Congresso não está imune a críticas — basta lembrar as emendas parlamentares ou os “jabutis” da conta de luz. Mas tem evitado desvios à direita e à esquerda ao longo da História. E todos os avanços do Brasil passam pelo Congresso, como as reformas da Previdência e tributária. Motta, alvo dos petistas, tem o mérito de ter criado um grupo de trabalho para debater a próxima reforma de fôlego, a administrativa.
É meritória a tentativa do governo de rever a regressividade tributária. Mas não com o aumento do IOF, que o Congresso fez bem em derrubar. Também é absurdo acreditar que a solução se resume a “taxar os super-ricos”. O slogan das redes sociais não resiste à análise técnica. A reforma do IR sugerida pelo governo traria ganho anual estimado em R$ 25 bilhões, mas sem acabar com as distorções (pois não mexe em regimes especiais, como Simples e Lucro Presumido). Enquanto isso, o Orçamento prevê R$ 544 bilhões em isenções e subsídios tributários que só crescem desde o primeiro mandato de Lula. Mas só agora, diante da pressão, o Ministério da Fazenda tomou a iniciativa de promover corte de 10% — o projeto, diga-se, recebeu apoio de Motta.
Acuados pelas pesquisas, Lula e o PT apostam numa campanha polarizadora e mendaz — ninguém defende congelar o salário mínimo, apenas corrigi-lo pela inflação ou desvinculá-lo do reajuste de benefícios previdenciários. No passado, o “nós contra eles” trouxe ganhos eleitorais, mas se revelou uma irresponsabilidade com o país. O Congresso tem legitimidade e papel essencial na solução dos nossos problemas. (Opinião/Jornal O Globo)