Segunda-feira, 20 de outubro de 2025

O que as Forças Armadas pensam sobre a demissão do único ministro militar de Lula?

A demissão do general da reserva Marco Edson Gonçalves Dias, agora ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), não deve afetar a relação do Exército com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Oficiais da ativa e da reserva ouvidos pelo Estadão sob a condição de anonimato afirmam que Gonçalves Dias não era visto como um representante da cúpula das Forças Armadas no primeiro escalão do governo.

Um general de quatro estrelas lembrou que Gonçalves Dias não foi um ministro indicado, sugerido ou endossado pelo Exército ao presidente, apesar do vínculo direto com o Alto Comando. Um assessor do atual comandante disse que Gonçalves Dias estava na reserva há anos, era antigo colaborador da segurança presidencial do petista e, por isso, uma escolha pessoal de Lula. Além disso, o general de três estrelas não demonstrava ambições políticas e atuava com pouco apego ao cargo, de forma discreta, cumprindo uma missão a pedido do presidente.

Um ex-comandante do Batalhão da Guarda Presidencial, conhecedor das rotinas do Palácio e do GSI, avalia que Lula o manteve até agora no cargo por consideração ao antigo colaborador, mesmo com todas as queixas e desconfianças sobre os militares que manifestou. Para o oficial, “no fundo, Lula não queria um milico lá, ainda mais o chefe”. E a escolha por um militar passou a fazer menos sentido ainda porque a Polícia Federal assumiu a segurança pessoal do presidente – as instituições PF e Forças Armadas têm culturas e métodos distintos.

Compromisso constitucional

Gonçalves Dias foi diretor do Departamento de Segurança e assessor-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Em março de 2006, assumiu como secretário de Segurança da Presidência da República. Sempre circulou muito próximo do presidente, espécie de “sombra”. Assumiu a Coordenadoria de Segurança Institucional e trabalhou com a ex-presidente Dilma Rousseff em 2013.

Nesta quarta-feira, dia 19, Lula voltou a falar sobre seus dissabores com a caserna. “Hoje foi o Dia do Exército Brasileiro e todo mundo sabe o quanto eu andava magoado com os militares desse país por conta de tudo o que aconteceu. Fiquei a noite inteira pensando ‘vou ou não vou?’. Tomei a decisão de ir e acho que Deus me ajudou a decidir”, disse o presidente. Esse Exército não é mais o Exército de Bolsonaro, é o Exército de Caxias, é o Exército com compromisso constitucional.”

A ausência de Gonçalves Dias ao lado de Lula, na solenidade no Quartel-General do Exército, foi notada e comentada no generalato. Achavam que ele deveria estar na cerimônia por chefiar, até então, uma pasta com perfil militar na Presidência da República. Naquela altura, já circulava entre os generais a informação de que ele fora flagrado em uma situação complicada, embora as imagens não tivessem sido veiculadas pela CNN Brasil.

Sem comentários

A ordem no Comando do Exército é não tratar publicamente do assunto. A cúpula da Força Terrestre acompanha agora quem vai ficar com o comando GSI, que possui em sua maioria cargos e atribuições militares. Embora a pasta tenha sofrido grande desidratação, com perda de atribuições, oficiais acham pouco provável que Lula avance a ponto de extingui-la por completo. Mas deve eliminar um problema, a cobrança por desmilitarizar a pasta.

O desfecho mais provável, segundo oficiais militares e ministros de Lula, é a escolha de um civil para chefiar a pasta. Lula entregou o comando, de forma interina, a Ricardo Capelli, jornalista e braço-direito do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino.

Perda de prestígio

Sem nenhuma base política, Gonçalves Dias havia perdido poder e prestígio e viu sua pasta ser esvaziada no governo depois do atos golpistas de 8 de janeiro. Gonçalves Dias havia entrado numa disputa de versão com o próprio Exército, sobre a dispensa de um reforço de segurança às vésperas do ataque ao Palácio do Planalto, e não encontrava apoio amplo nem na caserna para permanecer no governo.

A situação se tornou irreversível após a CNN Brasil divulgar imagens que mostram o então ministro indicando uma saída pela escada a invasores que estavam na porta do gabinete de Lula. As gravações do próprio Palácio do Planalto mostram a equipe do GSI, de forma passiva, sem deter os invasores. Um deles cumprimentou um dos extremistas e fez um gesto de positivo a outro grupo.

O presidente determinou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) saísse do organograma do GSI. A Abin passou a ser vinculada à Casa Civil, chefiada por Rui Costa, que conduzia reuniões sobre o assunto sem a presença do próprio Gonçalves Dias.

Dois dias após o fracasso na proteção da Presidência, Gonçalves Dias dizia ter preparo para se defender de “fogo amigo ou fogo inimigo”, por causa de seus 44 anos de Exército. Em duro recado, Lula chegou a dizer a Gonçalves Dias que ele precisava “assumir o controle” e “tomar conta” da pasta o quanto antes, segundo ministros, e ordenara um pente-fino em toda a equipe herdada do general bolsonarista Augusto Heleno.

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