Domingo, 24 de agosto de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 23 de agosto de 2025
Uma frota de navios militares americanos a caminho da América do Sul deve chegar a águas internacionais na costa da Venezuela neste domingo (24), ampliando a tensão entre a Casa Branca e o regime de Nicolás Maduro.
A operação militar ordenada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, é oficialmente destinada a combater o narcotráfico na região, mas seu alcance e implicações práticas são uma incógnita, e fez soar alertas em alguns países latino-americanos.
Washington e Caracas não mantêm relações diplomáticas bilaterais formais desde 2019, no primeiro mandato de Trump. O rompimento ocorreu quando a Casa Branca reconheceu o então líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, como presidente interino do país, após a Assembleia Nacional venezuelana não reconhecer a reeleição de Maduro.
Na época, os EUA impuseram diversas sanções contra Caracas e Trump chegou a falar que uma intervenção militar era “uma opção” para mudar o regime no país. Durante o governo Joe Biden, o governo americano seguiu rompido com a Venezuela.
Em 18 de julho deste ano, uma troca de prisioneiros entre EUA e Venezuela acendeu esperanças de que os dos países poderiam adotar uma atitude pragmática de reaproximação, mas a situação logo se deteriorou. Uma semana depois, o governo americano classificou o Cartel de los Soles como organização terrorista internacional e afirmou que ele era liderado por Maduro e uma ameaça à paz e à segurança dos EUA.
Em seguida, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, divulgou um comunicado afirmando que Maduro fraudou as eleições para se manter no poder e que não o reconhecia como presidente da Venezuela.
E Trump, segundo o jornal americano New York Times, assinou uma diretriz sigilosa determinando ao Pentágono o uso de força militar contra cartéis na América Latina classificados como organizações terroristas.
Doutrina Monroe
A autorização para que o Pentágono atue contra cartéis na América Latina e a escalada sobre a Venezuela trazem indícios de que Trump poderia tentar reativar a Doutrina Monroe, criada no início do século 19 para afirmar a hegemonia dos EUA sobre as Américas, que serviu de pretexto para intervenções e golpes militares na região no século 20.
Na gestão Barack Obama, a Casa Branca chegou a anunciar que essa doutrina estava “morta”, substituída pela priorização de parcerias e cooperações com os países latino-americanos.
Interesses de Trump
No seu atual mandato, Trump vem testando em diversas oportunidades até que ponto consegue mobilizar militares para atuar em questões internas e no combate à criminalidade.
Ele já destacou militares para a fronteira com o México para atuar no controle da imigração de pessoas indocumentadas, para Los Angeles para proteger prédios federais e autoridades policiais durante uma onda de protestos contra as políticas anti-imigração da Casa Branca, e mais recentemente para Washington D.C. com o objetivo declarado de combater a criminalidade.
O uso das Forças Armadas do país para o combate ao narcotráfico não seria inédito. No governo de George H. W. Bush, militares americanos invadiram o Panamá para capturar o então ditador Manuel Noriega, acusado de chefiar uma quadrilha de tráfico de drogas – a iniciativa durou de dezembro de 1989 a janeiro de 1990 e ficou conhecida como Operação Justa Causa.
Segundo fontes venezuelanas consultada pelo jornal O Globo, sob anonimato, Caracas considera diversos possíveis cenários relacionados à chegada da frota de navios militares americanos. Um deles seria usar essa frota para impor restrições ao movimento de navios no litoral venezuelano e dificultar a exportação de petróleo, maior fonte de recursos do regime chavista.
Outra opção, menos provável, seria um ataque pontual e direcionado contra Maduro ou outra autoridade venezuelana, como ocorreu com o general iraniano Qassim Soleimani, comandante da Guarda Revolucionária do Irã, morto em 2020, durante o primeiro governo Trump, por um míssel disparado por drone americano no Iraque.
Também compõe o cenário uma tentativa de invasão ou de golpe na Venezuela liderada por grupos paramilitares, como ocorreu na chamada Operação Gideão em maio de 2020, que acabou com a prisão e morte dos envolvidos.
A mobilização da Marinha americana também pode ter efeitos além da Venezuela, ao enviar um sinal a outros países da região sobre a natureza do atual governo americano. As informações são da agência Deutsche Welle Brasil