Terça-feira, 15 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 14 de julho de 2025
A ameaça feita pelo presidente dos EUA, Donald Trump, de sobretaxar em 50% as exportações brasileiras caso Jair Bolsonaro não seja desobrigado de responder pelos crimes dos quais é acusado é um teste para a maturidade institucional do Brasil. A reação das autoridades irá separar os oportunistas, que só estão interessados nos bônus eleitorais que podem extrair da crise, dos estadistas empenhados em evitar os danos à economia nacional caso a medida, de fato, entre em vigor a partir de 1º de agosto.
Uma janela para negociação foi aberta pelo próprio Trump em sua carta ao presidente Lula da Silva. E, para resguardo dos interesses nacionais, hão de prevalecer a racionalidade e o espírito público na opção por esse caminho. Reações figadais só tendem a atribular ainda mais a relação entre Brasil e EUA, sob a ótica geopolítica, e causar impactos negativos não triviais ao polo mais fraco do comércio entre os dois países, no que concerne à economia.
Até agora, para o bem do País, os adultos na sala têm prevalecido com seu misto de prudência e altivez. A primeira reação de Lula à carta de sua contraparte foi correta, como já sublinhamos neste espaço. O presidente da República ressaltou que o Brasil é um país soberano e que o Supremo Tribunal Federal (STF) é livre e independente para julgar Bolsonaro de acordo com a Constituição e as leis brasileiras.
O Congresso, por sua vez, também foi correto ao se manifestar sobre o imbróglio. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), assinaram nota conjunta na qual afirmam que a diatribe de Trump “deve ser respondida com diálogo nos campos diplomático e comercial”. É assim que duas nações que mantêm laços e interesses muito mais sólidos do que os de seus governantes de turno devem tratar suas divergências.
Tanto Motta como Alcolumbre lembraram ainda que, à luz da Lei de Reciprocidade Econômica, o Brasil dispõe de um instrumento legítimo para, em caso de fracasso das negociações comerciais, “proteger a sua soberania”. Na prática, isso significa impor a mesma tarifa anunciada por Trump aos produtos exportados por seu país. O governo federal também não descarta recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) e quebrar a patente de medicamentos desenvolvidos por laboratórios americanos. Não é o desfecho esperado por este jornal nem decerto pelos que primam pelas boas relações entre as duas maiores democracias das Américas. Mas, se for esse o destino, Executivo e Legislativo dão sinais, ao menos até o momento, de que estão preparados para lidar com esse ataque não provocado.
Por se tratar de uma sanção política, e não comercial – Trump justifica a sobretaxa pela suposta “caça às bruxas” que o STF, ora vejam, estaria promovendo contra Bolsonaro –, a negociação será difícil. Afinal, o que conceder quando o que está em jogo é a soberania nacional manifestada pela independência da mais alta instância do Judiciário do País? Mas difícil não significa impossível. O vaivém do próprio Trump em relação à imposição de tarifas a outros países indica que o governo federal, por meio do competente quadro técnico do Itamaraty, tem meios para reverter ou mitigar a medida. Tudo dependerá do grau de seriedade da condução dessa negociação.
A sanção tarifária, se de fato for implementada, causará severos impactos econômicos, especialmente em setores estratégicos como o agronegócio e a indústria paulistas. Estima-se que São Paulo será o Estado mais afetado pelo tarifaço, o que torna o governador Tarcísio de Freitas peça-chave nesse tabuleiro. Como chefe do Executivo estadual e aspirante à Presidência, ele tem o dever de proteger os interesses de São Paulo, buscando dialogar com o governo federal e, principalmente, usando sua proximidade com Bolsonaro para tentar desarmar a bomba criada por Trump em nome de uma suposta “solidariedade ideológica” com seu padrinho político. Não se pode servir a dois senhores. É hora de Tarcísio mostrar se está ao lado do Brasil ou de Bolsonaro. (Opinião/O Estado de S. Paulo)