Terça-feira, 21 de outubro de 2025

Onze casos de micobactérias são identificados em pacientes que viajaram para o Paraguai para se submeter a cirurgias de prótese e lipoaspiração

A secretaria estadual de Saúde do Mato Grosso do Sul emitiu um alerta técnico sobre um surto de micobactérias graves no Estado, consequência de procedimentos estéticos realizados no Paraguai sem a devida higienização. Os exames indicaram cepas do microrganismo com resistência a diversas classes de medicamentos, o que torna o quadro grave e mais difícil de ser tratado.

O país vizinho é destino de muitos brasileiros para intervenções médicas com fins estéticos devido aos preços mais baixos e à fiscalização mais branda. O Paraguai não tem, por exemplo, uma organização dedicada à vigilância sanitária, como é o caso da Anvisa no Brasil, e mantém as atribuições sob guarda-chuva do Ministério da Saúde.

Até agora, foram identificados 11 casos no Estado – seis confirmados para Mycobacterium abscessus, uma das micobactérias mais resistentes aos antibióticos conhecidas hoje, o que limita as opções de tratamento. Outros cinco estão em investigação. Entre os pacientes confirmados, três são brasileiros e três paraguaios, todos com o diagnóstico após procedimentos estéticos feitos no Paraguai.

De acordo com a secretaria de Saúde do MS, as intervenções realizadas no país foram prótese de mama, abdominoplastia e lipoaspiração, e os brasileiros contaminados serão tratados em território nacional.

“A gente já teve um surto anterior relacionado à prótese mamária. Essa micobacteriose está relacionada principalmente a procedimentos estéticos porque ela fica nas próteses ou nos aparelhos utilizados em lipoaspiração, por exemplo. Então, se você não faz a esterilização adequada, você não consegue eliminar o microrganismo, e a gente tem casos de infecções hospitalares por não ter o controle sanitário adequado”, explica o presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT) Julio Croda, professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.

A microbacteriose passou a ser monitorada pela Anvisa e departamentos de vigilância sanitária dos estados depois que, entre os anos de 2003 a 2008, ocorreram surtos distribuídos pelo país com mais de dois mil casos de infecção. A contaminação não acontece de pessoa para pessoa, e sim pelo uso de produtos e objetos infectados durante procedimentos médicos, especialmente os invasivos.

Croda explica que, por se tratar de um microrganismo resistente aos medicamentos disponíveis hoje, o tratamento é mais difícil, mais caro e leva mais tempo, podendo chegar a meses. “Os microrganismos resistentes são uma tendência, e uma muito preocupante, porque o tratamento é difícil e prolongado, e a gente no Brasil não está organizado para receber esse tipo de paciente”, explica o presidente da SBMT.

Além disso, ele destaca que pode haver outros casos que não tenham sido notificados ainda, tanto no Paraguai, como de brasileiros que foram à fronteira para realizar o procedimento, mas ainda não tiveram o diagnóstico.

Alerta

A secretaria de Saúde do Estado do Mato Grosso do Sul orienta aqueles que passaram pelo procedimento estético no país vizinho, e apresentarem sintomas, a procurarem atendimento médico ou uma unidade de saúde pública.

Em nota, a secretaria acrescentou que “está lidando com o surto de uma forma responsável e cuidadosa e, ressalta que o alerta foi encaminhado à todas as unidades de serviço de saúde dos 79 municípios no Estado”.

A Anvisa confirmou que a vigilância sanitária do Estado seguiu os protocolos e comunicou a agência nacional para que as informações fossem repassadas ao Ministério da Saúde, que deverá entrar em contato com o órgão responsável paraguaio.

“As informações enviadas pela Vigilância Sanitária (VISA) do estado do Mato Grosso do Sul para o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde – CIEVS Nacional do Ministério da Saúde, para que eles possam fazer a interlocução do Brasil com o Ministerio de Salud Pública y Bienestar Social do Paraguai. Até onde temos conhecimento, a inspeção e a fiscalização sanitária de serviços de saúde no Paraguai são coordenadas pelo Ministério da Saúde do país, que será contactado pelo Ministério da Saúde do Brasil”, disse a agência em nota.

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