Sábado, 02 de agosto de 2025

Os caquinhos da verdade

Os nossos maus hábitos nas discussões , principalmente na política onde sempre prevalece o “Eu falo e tu não me escuta”, Segue forte e firme, “vence” a discussão aquele que falar mais e mais alto! Mas, e afinal? Quem está com razão? Ou a verdade.

Vou te dizer de forma definitiva que a razão estará sempre com quem está certo.

Não ajudou em nada!

Então, agora prepare-se para saber a verdade!

Vou te convencer que esse seu posicionamento político está equivocado e você será absolutamente convencido por estes argumentos e vão mudar suas convicções!

Porém, antes desta mudança brusca em seus posicionamentos, e até em sua vida, peço que responda (para si mesmo) e sinceramente.

Depois de ler sobre a possibilidade de ser desafiado em suas convicções, você ficou:

( ) Curioso com a possibilidade de ouvir algo diferente dos conceitos que formam seus pilares do seu posicionamento?

( ) Preparou um arsenal de defesa e acendeu uma luz vermelha para rebater qualquer argumento que venha ousar contrariar suas convicções?

Conhece-te a ti mesmo.

Existe uma sabedoria na cultura chinesa que diz assim: “Se uma pessoa caminha com um pão e outra pessoa no sentido oposto também com um pão, quando se encontram, podem trocar de pão e cada uma delas seguirá seu caminho, com um pão. Se a pessoa caminha com uma ideia e outra pessoa no sentido oposto tem outra ideia, quando se encontram, podem trocar ideias, e cada uma seguirá seu caminho com duas ideias.”

O que está difícil em nosso tempo é justamente ouvir as ideias, com a interpretação exata do que a outra pessoa quer nos transmitir.

Nesta guerra ideológica, queremos somente falar e raramente queremos ouvir, e quando ouvimos, damos a nossa interpretação, e não ao sentido que nosso interlocutor quer nos comunicar.

Em resumo: Ouvimos pouco e mal.

Forma-se um escudo cerebral, onde as ideias alheias ricocheteiam, ou seja, interrompemos o raciocínio alheio contra-atacando, por receio de que: “se eu ouvir em silêncio, estarei concordando”.

Ouvir não é concordar, mas sim entender educadamente, outras razões!

Este fenômeno ocorre porque para se ouvir de verdade, é preciso prestar atenção e ficar em silêncio.

E agora vem o pior.

Na maioria das vezes, se ficarmos em silêncio para ouvir todos os argumentos contrários, o nosso interlocutor fica convencido que nada mais precisa ser dito.

Se o outro silenciou , é porque eu o convenci e ele concordou e então, “eu venci e encerro a discussão”.

E a partir daí entram em campo as expressões:

– Eu já te expliquei …

– Tu não era nem nascido, …

– Vai repetir de novo!

– Isso só funciona na teoria

– Vai por mim, conheço (…)

E aí tudo pode acontecer…

Definitivamente, ouvir não está na moda.

E a verdade do início do texto?

A verdade se explodiu em mil pedaços, para se chegar o mais perto dela, é preciso juntar o maior número de caquinhos possíveis.

Para isso: O dever tem que estar à frente da minha vontade. Precisamos olhar o mundo também de fora pra dentro e não só a partir da minha visão. Reconhecer que um direito negado ao meu opositor, mesmo que no coletivo, um dia será ruim para o meu individual.

Compreender que progresso e prosperidade, nunca chegam por ações coletivas, mas que o sucesso vem pelo esforço individual.

Garantir o direito de expressão de quem não simpatizamos e não concordamos, nos torna mais civilizados.

Quanto mais “talento” tivermos para colar os caquinhos da verdade, mais perto dela estaremos.

Lembre-se! “O inferno são os outros”. (JP Sartre)

(Rogério Pons da Silva é jornalista e empresário industrial – rponsdasilva@gmail.com)

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