Segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Os riscos da CPMI dos Atos Extremistas para governo e oposição

A revelação de imagens do circuito interno de segurança do Palácio do Planalto mostrando que integrantes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) podem ter sido negligentes, ou até mesmo colaborativos, com manifestantes radicais que invadiram o Palácio do Planalto em 8 de janeiro deram novo fôlego para a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para “apurar a responsabilidade pelos atos antidemocráticos e terroristas” na invasão das sedes dos Três Poderes.

A previsão é que a comissão seja instalada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, na quarta-feira (26/), pois já há assinaturas suficientes de deputados e senadores para sua realização.

O primeiro impacto das imagens reveladas pela CNN Brasil foi a demissão do ministro-chefe do GSI, general Gonçalves Dias.

Agora, a esperada instalação da CPMI, que vinha sendo defendida pela oposição, traz o risco de desviar o foco do Congresso de pautas importantes para o Palácio do Planalto, como a aprovação do novo arcabouço fiscal e da reforma tributária.

Justamente por isso o governo vinha tentado adiar seu início, mas após a queda do ministro há uma percepção de que a comissão será necessária para combater a narrativa de parlamentares bolsonaristas de que o governo não teria protegido adequadamente o Palácio do Planalto para, supostamente, facilitar a atuação dos invasores.

O governo argumenta que o ataque aconteceu quando a nova gestão ainda tinha poucos dias, de modo que muitos integrantes do GSI ainda eram remanescentes da gestão Bolsonaro. Dias, porém, havia sido nomeado por Lula no dia 1º de janeiro para comandar o órgão.

“Essa CPI vai engolir as pautas prioritárias e urgentes do governo. Que situação: precisam fazê-la mas não poderiam fazê-la”, notou a cientista política Beatriz Rey, pesquisadora sênior no Núcleo de Estudos sobre o Congresso da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em um post no Twitter.

Por outro lado, o cientista político Antonio Lavareda também vê riscos para a oposição. Na sua visão, é difícil a base bolsonarista conseguir usar a CPI para comprovar sua narrativa de que os ataques aos Três Poderes não partiram de apoiadores radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas de infiltrados da esquerda.

Os vândalos que invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso, e o Supremo Tribunal Federal (STF) vieram de diferentes partes do País e, antes dos ataques, se concentraram no acampamento de apoiadores de Bolsonaro que ficava em frente ao Quartel-General do Exército.

“CPIs, na maioria das vezes, são palco para a oposição e não costumam ser boas para o governo. Mas, nesse caso, é um procedimento arriscado para a oposição. O que foi uma tentativa de golpe de setores de radicais de direita dificilmente poderá ser debitado ao governo ou às forças que apoiam o governo. É uma narrativa demasiadamente fantasiosa”, afirma.

“A base governista pode aproveitar a CPI para mostrar, mais uma vez, o comprometimento de segmentos radicais da direita, que apoiaram, participaram e instigaram (os ataques). Pode ser um excelente momento para discutir a autoria intelectual do 8 de janeiro, que até agora ainda não foi suficientemente iluminada”, acrescentou.

Para Lavareda, porém, governo e parlamentares da base terão o grande desafio de evitar que a CPMI drague suas energias e seu foco no Congresso.

Isso porque, segundo ele, será inevitável que deputados e senadores aliados do Planalto gastem tempo participando da comissão e respondendo à oposição, ao invés de priorizarem apenas as propostas da administração Lula que vão à votação.

O professor ressalta que, embora a apuração dos ataques aos Três Poderes seja muito importante para a democracia brasileira, não é um assunto que está no topo das prioridades da população.

Uma pesquisa realizada em fevereiro pelo Instituto de Pesquisas Sociais Políticas e Econômicas (Ipespe), do qual é presidente do conselho científico, indicou saúde como a área que mais deveria receber atenção do governo, segundo 23% dos entrevistados.

O tópico emprego e renda veio em seguida, com 20%, e educação logo depois, com 18%. Já o item “combate a atos golpistas” teve apoio de apenas 2% dos que responderam ao levantamento.

Os atos de 8 de janeiro já vêm sendo investigados pela Polícia Federal e pela Procuradoria-Geral da República. Alguns processos criminais, inclusive, já foram abertos no STF.

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