Sábado, 04 de outubro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 23 de julho de 2025
Ozzy Osbourne, que morreu na terça-feira (22) aos 76 anos, nunca foi o tipo de artista que economiza no choque. Mas em 1988, ele decidiu levar a ironia a um novo patamar: enfiou 60 porcos dentro de uma igreja cenográfica como forma de protesto contra um pastor moralista. Resultado? Um vídeo lendário e um festival de cocô que quase afogou o set.
A música em questão é “Miracle man”, faixa que abre o disco No rest for the wicked, primeiro trabalho de Ozzy ao lado do então jovem guitarrista Zakk Wylde. O alvo da vez era o televangelista Jimmy Swaggart, conhecido por sua retórica inflamável contra o rock, que nos anos 1980 fazia campanha contra o “mal do rock satânico” e citava Ozzy com frequência como símbolo da degeneração da juventude.
Só que em 1988, a hipocrisia cobrou seu preço: Swaggart foi flagrado em um motel com uma prostituta e viu seu império de fé desmoronar. Ozzy, sempre atento à teatralidade e ao sarcasmo, não perdeu a oportunidade de transformar o escândalo em munição artística. A provocação ganhou forma no videoclipe de “Miracle man”, recheado de referências ao pastor e ambientado numa igreja montada em estúdio.
Em entrevista à revista Guitar World, Ozzy relembrou a gravação do clipe, marcada por um momento tão escatológico quanto simbólico: “Quando a música começou, todos os porcos cagaram ao mesmo tempo. O som tava alto demais lá dentro. Minha esposa só gritou ‘que merda!’ Eu tava com umas botas de camurça novas e nunca mais usei. Não dava pra tirar o cheiro de bosta de porco delas”, disse, com seu humor característico.
A ousadia visual do vídeo reforçou a imagem de Ozzy como um dos maiores ícones do rock transgressor. Mais do que uma provocação gratuita, o clipe foi também uma crítica à hipocrisia religiosa e aos julgamentos morais seletivos que artistas do heavy metal enfrentavam constantemente durante a década de 1980.
O uso de animais como símbolo de rebeldia não era novidade na carreira do músico britânico. Em 1982, ele chocou o público ao morder a cabeça de um morcego durante um show em Iowa — o que mais tarde disse ter sido um acidente, acreditando que o animal era de borracha. Ainda antes disso, arrancou a cabeça de um pombo com uma mordida em plena reunião de negócios com executivos da gravadora CBS.
Esses episódios, embora controversos, ajudaram a construir a figura do “Príncipe das Trevas”, apelido que Ozzy cultivou ao longo das décadas. Seus excessos, tanto no palco quanto fora dele, tornaram-se parte indissociável de sua mitologia pessoal — uma combinação de caos, humor ácido e crítica velada à moral dominante.
Mesmo com o passar dos anos, Ozzy nunca se afastou totalmente das provocações. Seu legado musical e comportamental segue sendo celebrado por fãs do mundo inteiro, e momentos como o clipe de “Miracle man” continuam vivos como retrato da sua irreverência, sempre afiada e, acima de tudo, autêntica.