Quinta-feira, 26 de junho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 10 de outubro de 2021
Em mensagem divulgada neste domingo (10) por ocasião da 60ª Marcha pela Paz, que ocorre entre as cidades de Assis e Perugia, o papa Francisco considerou “escandaloso” que os países gastem “enormes somas de dinheiro” em armamentos enquanto proclamam a paz nas cúpulas internacionais.
O Pontífice lamentou que “infelizmente, ainda hoje, depois de duas guerras mundiais cruéis e de tantas guerras regionais que destruíram povos e países”, haja Estados que “ainda gastam enormes somas de dinheiro em armamento”.
Segundo ele, os países proclamam a paz desviando o olhar de milhões de pessoas “que não têm o necessário para viver ou que se arrastam numa existência indigna para o homem”. “É escandaloso”, ressaltou.
No texto lido pelo arcebispo de Assis-Nocera, monsenhor Domenico Sorrentino, Francisco saudou ainda os participantes da marcha pela paz, lembrando o tema escolhido: “Cuidado como novo nome da paz”. De acordo com o líder da Igreja Católica, “no fato de hoje haver uma ampla partilha em torno do valor do cuidar, referindo-se aos outros e ao meio ambiente, podemos reconhecer um sinal positivo dos tempos, que a crise pandêmica ajudou a evidenciar”.
“Com o gesto simples e essencial do seu caminhar, vocês afirmam que a cultura do cuidado é um caminho, aliás, é o principal caminho que leva à paz”, acrescentou.
Jorge Bergoglio enfatizou que “o cuidado é o contrário da indiferença, do descarte, de violar a dignidade do próximo, isto é, dessa ‘anticultura’ baseada na violência e na guerra”.
Por fim, o Papa advertiu que “é mais do que nunca necessário percorrer o caminho do cuidado: não uma vez por ano, mas todos os dias, no concreto da vida cotidiana, com a ajuda de Deus que é pai de todos e a todos”. “Ele cuida, porque aprendemos a viver juntos como irmãos”, concluiu o religioso, invocando a intercessão de São Francisco de Assis e enviando sua bênção.
Recorrente
Em fevereiro, o Papa já havia feito discurso parecido. Ele condenou na época, durante um compromisso em Bari, no sul da Itália, a guerra que atormenta os países nas proximidades do Mediterrâneo e definiu como hipócritas aqueles que “falam de paz e vendem armas”.
“A guerra é contrária à razão, é uma loucura e não faz sentido, e com a qual não podemos nunca nos acostumar”, acrescentou.
A crítica do papa foi feita durante uma rápida viagem de um dia a essa cidade na região de Apulia, onde participou do encontro “O Mediterrâneo, fronteira para a paz”, organizado pela conferência episcopal italiana junto a 59 bispos vindos de 20 países.
Em seu discurso, o papa aproveitou para fazer menção ao “grande pecado da hipocrisia”, já que muitos países “falam de paz e vendem armas aos que estão em guerra”, ressaltou.
O pontífice argentino reiterou ser contrário às guerras e mencionou “as divisões” e “as desigualdades” que afetam a região do Mediterrâneo, que definiu como “O Mare Nostrum, o lugar físico e espiritual no qual nossa civilização foi formada, como resultado do encontro de diferentes povos”, comentou.
Ao referir-se a essa área, com muitos focos de instabilidade e guerra, tanto no Oriente Médio quanto na África, Francisco comentou sobre o conflito entre Israel e os palestinos.
“Também não podemos esquecer o conflito, ainda sem resolução, entre israelenses e palestinos, que corre o perigo de ter soluções não equitativas e, portanto, pode gerar uma nova crise”, alertou.
O pontífice disse também ter medo dos discursos de líderes populistas, porque o fazem lembrar das “mensagens de ódio dos anos 1930 do último século”, em referência ao nazismo e ao fascismo.