Sexta-feira, 03 de maio de 2024

Para o diretor do Fundo Monetário Internacional, “o Brasil precisa manter mentalidade de reformas e esforço fiscal”

Embora tenha melhorado a projeção para o crescimento do Brasil neste ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta para a necessidade de o País avançar na agenda de reformas e intensificar o esforço fiscal para reduzir a dívida, que seguirá crescendo nos próximos anos, na visão do organismo.

“O que é importante é manter essa mentalidade de reformas. Elas podem aumentar o crescimento potencial e isso vai produzir receitas fiscais para fazer tudo o que o País necessita. Sem crescimento, é muito difícil suprir essas necessidades”, diz o diretor do Hemisfério Ocidental do FMI, Rodrigo Valdés, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

O alerta do FMI vem enquanto, no Brasil, “pautas-bomba” no Congresso – a exemplo da desoneração da folha de municípios, que compromete receitas geradas com a reforma da Previdência – podem minar os esforços do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de ajustar as contas públicas. O Fundo piorou as projeções fiscais para o Brasil e não vê superávit primário até o fim do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A seguir os principais trechos da entrevista:

1) O FMI alertou para o risco de condições financeiras mais apertadas por conta de a escalada de tensões geopolíticas afetar os países emergentes. Como o sr. vê esse cenário impactando os ativos da região?

A região passou por dois grandes choques, a crise de 2008 e a covid, e hoje está mais preparada para enfrentar diferentes choques. Ao mesmo tempo, precisamos continuar a nos preparar e uma das questões que consideramos mais importantes é que os países precisam reconstruir o colchão fiscal, passados os últimos choques.

2) O Fundo também piorou as projeções fiscais para o Brasil após o governo anunciar metas menos ambiciosas para os próximos anos. Qual a recomendação fiscal para o Brasil conseguir manter sua credibilidade?

É muito importante identificar medidas precisas para chegar lá. Uma coisa é ter uma meta, outra é ter um plano completo possível para atingir os objetivos no final. E em todos os países, dizemos: olhe, gostaríamos de um esforço fiscal mais sustentado para colocar a dívida na trajetória descendente, mas também precisamos enfrentar a realidade. Não é uma corrida fácil.

3) Por outro lado, o FMI melhorou a projeção de crescimento do Brasil?

O Brasil nos surpreendeu positivamente. Aumentamos nossa projeção para o crescimento neste ano para 2,2% por conta dos resultados fiscais com os precatórios. Isso tem algum efeito, mas também porque a economia tem estado muito, muito forte. É interessante que o Brasil e o México estão se comportando um pouco melhor ou mais positivamente em relação às expectativas em comparação com o resto dos países da América Latina, que estão tendo mais dificuldades para aumentar o crescimento.

4) Mas o México soube aproveitar melhor o comércio com os países vizinhos na esteira da covid-19…

Nearshoring, sim. O Brasil é mais fechado. Mas também está se beneficiando de várias reformas estruturais feitas no passado. Vemos poucos países na região a realizar reformas estruturais tão abrangentes como as que vimos em curso no Brasil nos últimos anos e, em especial, no ano passado e neste, como a reforma tributária. Se olharmos para a região, essa prioridade de reforma é a maior ou com o maior impacto em termos de crescimento potencial que vemos em diferentes países.

5) O sr. mencionou reformas no Brasil e estamos em um ano de eleições, aliás, no mundo. Quão otimista está com mais reformas no País?

O que é importante é manter essa mentalidade de reforma. É muito importante aprender com as experiências anteriores, e acho que o Brasil fez um trabalho muito bom na identificação das reformas. Elas podem deixar crescimento potencial e isso vai produzir receitas fiscais para fazer tudo o que o País necessita. Sem crescimento, é muito difícil suprir essas necessidades.

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