Sexta-feira, 25 de julho de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 23 de julho de 2025
O presidente da Câmara dos Estados Unidos, Mike Johnson, decidiu antecipar em um dia, para quarta-feira, o início do recesso parlamentar, para evitar votações sobre a liberação dos arquivos sobre o processo contra o milionário Jeffrey Epstein, acusado de tráfico sexual. Apesar de Epstein ter morrido em 2019, o caso voltou a movimentar Washington, e expôs divisões dentro da base do presidente Donald Trump.
— Já chega de sermos ensinados sobre transparência. Não vamos fazer jogos políticos com isso — disse Johnson, reclamando dos “esforços intermináveis para politizar a investigação de Epstein”.
Os republicanos planejavam aprovar esta semana uma medida de imigração, um projeto de lei de licenciamento e a revogação de algumas regulamentações da era do presidente Joe Biden. Mas tudo mudou com o caso Epstein, e com a pressão por votações ligadas à liberação de documentos sigilosos do processo.
Após afirmar inicialmente que o material deveria ser divulgado, Johnson prometeu, na última segunda-feira, que nada seria votado antes do recesso. Ele também alega que a base, ao contrário do que dizem analistas políticos, está unida, algo que condiz com a realidade do plenário
— Crimes foram cometidos — disse a republicana Marjorie Taylor Greene, ouvida pelo New York Times. — Se não houver justiça e responsabilização, as pessoas vão se cansar disso.
O também republicano Thomas Massie, que tem se levantado com frequência contra Trump, disse que ainda planeja uma votação para liberar os arquivos de Epstein em setembro, com a ajuda dos democratas, que veem possíveis benefícios eleitorais com a crise interna no meio trumpista.
— Ele simplesmente nos disse para enfiarmos a cabeça na areia sobre esse caso Epstein — disse Massie.
Conspiração x Realidade
Jeffrey Epstein, um influente milionário que contava com amigos importantes, como Donald Trump, foi acusado de liderar uma rede de tráfico sexual e de abusar sexualmente de menores de idade. Ele morreu enquanto aguardava julgamento, em 2019, mas a existência de uma suposta lista de clientes inflamou teorias da conspiração por mais de uma década. O próprio Trump, quando era candidato à Casa Branca, no ano passado, disse que faria novas revelações caso fosse eleito, incluindo sobre os clientes de Epstein.
Trump venceu, mas investigações posteriores comprovaram que a tal lista de clientes não existe, e que as narrativas conspiracionistas não correspondem à realidade. Parte da base trumpista, incluindo muitos parlamentares, não se deu por satisfeita, e cobra a liberação de novos documentos, apesar da relutância de Trump. Na semana passada, o Departamento de Justiça pediu que o tribunal de Nova York responsável pelo caso torne públicos depoimentos sigilosos de testemunhas e vítimas, um processo que, caso seja aceito pelo juiz, pode levar meses.
Em paralelo, a Casa Branca e o Congresso também jogam suas atenções para a companheira de Epstein, Ghislaine Maxwell, condenada a 20 anos de prisão por tráfico humano. O pedido do Departamento de Justiça ao tribunal de Nova York, na semana passada, incluía depoimentos do julgamento dela, e nesta terça-feira o vice-secretário de Justiça, Todd Blanche, afirmou que pediu uma reunião com Maxwell, que interagia com os contatos de Epstein, incluindo Donald Trump.
“Comuniquei-me com o advogado de Maxwell para determinar se ela estaria disposta a falar com os promotores do Departamento”, escreveu Blanche em suas redes sociais. “Se Maxwell tiver informações sobre alguém que cometeu crimes contra vítimas, o FBI e o Departamento de Justiça ouvirão o que ela tem a dizer”. Ele disse que está agindo sob as instruções de Trump para divulgar todas as evidências “confiáveis”.
Ainda nesta terça-feira, o Comitê de Supervisão da Câmara, controlado pelos republicanos, votou pela intimação de Maxwell “o mais rápido possível”, em uma ação que aconteceria em parceria “com o Departamento de Justiça e a Secretaria de Prisões”.
“Este depoimento ajudará o povo americano a entender como Jeffrey Epstein foi capaz de realizar suas ações malignas por tanto tempo sem ser levado à justiça”, disse o deputado Tim Burchett, autor da moção pedindo o depoimento, em um comunicado.
Em suas redes sociais, David Oscar Markus, advogado de Maxwell, advogado de Maxwell, confirmou que está “em negociações com o governo e que Ghislaine sempre testemunhará com sinceridade”, e agradeceu à Casa Branca “por seu comprometimento em descobrir a verdade neste caso”.
O súbito interesse do meio político americano no caso Epstein abre uma oportunidade para Maxwell, presa desde 2020, amenizar sua pena ou mesmo ganhar a liberdade. Em abril, ela solicitou à Suprema Corte que julgasse um recurso em seu caso, argumentando que um acordo firmado por promotores federais na Flórida em 2007 impedia um processo criminal. Ela alega que, segundo o acordo, os representantes do governo concordaram em não processar nenhum cúmplice de Epstein.
Contudo, o Departamento de Justiça, em argumentação à Corte, pediu a rejeição do recurso, argumentando que o acordo citado por Maxwell deixou brechas para que ela fosse processada em Nova York — onde foi condenada. As informações são do portal O Globo.