Quarta-feira, 04 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 10 de novembro de 2024
Delator de uma investigação sobre lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC), o empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach tinha uma sentença de morte contra ele decretada pela facção. Entre os bandidos, dizia-se que havia um prêmio de R$ 3 milhões de recompensa pela cabeça do delator.
O empresário revelou em seu acordo de delação premiada que soube que havia uma oferta de dinheiro pela sua morte. Gritzbach entregou aos promotores do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), também como parte da delação, um áudio em que um advogado, segundo ele ligado à cúpula da facção e acusado de lavar dinheiro do crime organizado, falava do prêmio. A ação contaria com a anuência da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Registrada na 1.ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, a delação de Gritzbach tem seis anexos. Para cada um deles, o empresário prestou depoimentos gravados a partir de maio deste ano. Também forneceu gravações, cópias de mensagens e documentos que estão com os promotores do Gaeco.
O áudio que menciona a recompensa tem 4 minutos e 59 segundos de duração e faz parte do Anexo 6 da delação, onde estão as denúncias de corrupção policial feitas por Gritzbach. A conversa se dá entre um investigador não identificado que trabalhava no Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e o advogado Ahmed Hassan, o Mude, acusado de ser ligado à cúpula da facção, e foi gravada pelo próprio Gritzbach sem o conhecimento dos outros dois no escritório dele.
O policial procurou Gritzbach para alertá-lo sobre os planos para matá-lo. Ele pôs o telefone no viva voz para conversar com um advogado acusado de lavar dinheiro da cúpula da facção. O advogado seria amigo de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, executado em 27 de dezembro de 2021 supostamente a mando de Gritzbach, e Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, um dos principais traficantes de drogas de São Paulo e acionista da empresa de ônibus UPBus, que está sob investigação de autoridades sob a suspeita de lavar dinheiro do crime organizado.
Negociação
O áudio começa com o advogado perguntando: “Trezentos, tá bom.” E faz uma advertência ao policial: “Mas é o seguinte. É sério. Não brinca com essas coisas se não quem vai é você”. O investigador responde: “Você sabe quem eu conheço? Você sabe disso”.
Ele estaria se referindo a Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, o primeiro barão internacional da droga do PCC, que foi preso em Moçambique uma operação da Drug Enforcement Agency (DEA), a agência antidrogas dos EUA) em 2020.
O advogado pergunta: “Eu não gosto dessas fitas. Você acha que três (R$ 3 milhões) vai?” E o policial responde: “Vamos pensar em 3. Me fala depois”.
Quando o telefonema termina, o investigador continua conversando com Gritzbach. “Vocês escutou. Você é meu irmão. Não é maldade. Por que esse cara está fazendo isso aí? Porque esse cara devia dinheiro. Você entendeu agora? Gostou do que falei? Ele está com o Cebola direto. Quando o Django ia morrer lá, os caras chamaram o Cebola no canto e disseram: ‘nós vamos subir ele e você vai ficar com tanta porcentagem do bagulho aí.’”
Django era Claudio Marcos de Almeida, outro traficante de drogas ligado ao grupo de Cara Preta e Cebola. Depois da morte de Cara Preta, Gritzbach chegou a ser sequestrado e levado ao tribunal do crime do PCC. O grupo já havia sequestrado e assassinado Noé Alves Schaum, que teria sido contratado por Gritzbach e por um operador de bitcoins para matar Cara Preta.
Schaum foi esquartejado por um integrante do PCC conhecido como Klaus Barbie, uma referência ao oficial da SS nazista chamado de “Carniceiro de Lyon”. Uma filmagem na qual Barbie dançava e se divertia enquanto cortava Schaum, que ainda estava vivo, foi exibida para Gritzbach durante a sessão do tribunal do crime.
Segurança particular
Agentes da Polícia Militar faziam a segurança particular do empresário. No momento em que ele foi assassinado, no entanto, três dos quatro policiais não estavam no Aeroporto de Guarulhos porque um dos carros usados por eles teria supostamente apresentado falha mecânica.
A Polícia Civil apreendeu os celulares dos quatro agentes, que ainda foram afastados