Sexta-feira, 26 de setembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 25 de setembro de 2025
Pedalar como forma de deslocamento pode estar associado a um risco significativamente menor de desenvolver demência e a um hipocampo maior — região do cérebro fundamental para a memória e o aprendizado. A conclusão é de um estudo publicado na revista científica JAMA Network Open, que avaliou dados de quase 480 mil pessoas no Reino Unido.
Ao longo de mais de 13 anos de acompanhamento, indivíduos que relataram deslocamentos ativos de bicicleta, ou combinando o pedal a outros meios de transporte, apresentaram entre 17% e 40% menos risco de desenvolver diferentes formas de demência. O efeito foi mais evidente em pessoas sem o alelo APOE ε4, uma variante genética associada ao aumento da suscetibilidade à doença.
Segundo os autores, a prática esteve relacionada a uma redução de 19% no risco de demência de todas as causas, 22% no risco de Alzheimer, 40% no risco de demência de início precoce (antes dos 65 anos) e 17% em demência tardia (após os 65). “Os achados sugerem que promover modos ativos de viagem, particularmente o ciclismo, pode estar associado a melhor saúde cerebral e menor risco de demência”, destacaram os pesquisadores.
A importância do tema cresce diante das projeções globais: o número de pessoas com demência deve saltar de 55 milhões em 2019 para 139 milhões em 2050, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Nesse cenário, medidas acessíveis de atividade física, como o deslocamento ativo, podem desempenhar papel relevante na prevenção — especialmente na meia-idade, quando os fatores de risco modificáveis têm maior impacto.
O trabalho não encontrou associação protetora para a caminhada isolada no caso do Alzheimer, mas observou uma redução modesta quando a prática esteve combinada a outros meios de transporte. Uma das hipóteses levantadas é que a demanda cognitiva exigida pelo ciclismo — como navegação espacial e atenção ao trajeto — contribua para os benefícios, além da intensidade física envolvida.
O estudo não determinou, porém, um volume mínimo de pedaladas necessário para obter efeitos protetores. A exposição foi medida a partir de uma única pergunta sobre os meios de transporte mais utilizados nas quatro semanas anteriores, sem detalhar frequência, duração ou distância percorrida.
Classificado como um estudo observacional de coorte, o trabalho utilizou dados do UK Biobank, envolvendo adultos com média de 56,5 anos. Entre os pontos fortes estão o tamanho da amostra e o longo período de acompanhamento. Já entre as limitações, os cientistas destacam o caráter auto-relatado das informações, o fato de terem sido coletadas apenas uma vez e a baixa diversidade racial e étnica da amostra, o que pode limitar a generalização dos resultados.
A pesquisa foi conduzida por cientistas da Huazhong University of Science and Technology, na China, e publicada em 9 de junho de 2025.