Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Pegar covid de propósito para “se livrar” é péssima ideia

As informações preliminares de que a variante ômicron causaria uma covid mais leve e com menor risco de complicações serviram para dar forças a argumentos do tipo: “melhor se infectar logo, ou de propósito, para se livrar da doença e seguir a vida com menos restrições”.

Na visão da microbiologista Natália Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência, a ideia é “péssima”, está baseada em “falsas premissas” e pode colocar em risco a saúde individual e coletiva.

A especialista não está sozinha nessa avaliação. Nenhuma entidade de saúde nacional ou internacional recomenda essa prática — a vacinação continua sendo a forma mais segura e efetiva de obter uma imunidade contra o coronavírus, especialmente contra as formas mais graves da infecção, que levam à hospitalização e morte.

O médico Drauzio Varella também abordou o assunto e fez um alerta parecido em uma coluna da revista Carta Capital intitulada “Fuja da ômicron”.

“Alguns se perguntam se não seria melhor pegarmos de uma vez essa variante menos agressiva. Não é melhor, não”, escreveu.

Já no Twitter, o cofundador da Microsoft Bill Gates e a especialista em saúde pública Devi Sridhar, da Universidade de Edimburgo, na Escócia, promoveram um debate e alertaram para o desafio que a onda de ômicron pode significar para vários países — mais um fator que pesa contra uma tentativa de “infecção proposital”.

“Enquanto os países atravessam a atual onda de ômicron, os sistemas de saúde serão desafiados. A maioria dos casos severos serão em pessoas não vacinadas”, escreveu Gates.

Ambos concordaram que, quando a onda da ômicron terminar, pode até ser que a covid-19 fique mais parecida com a gripe sazonal, mas ainda não chegamos nesse estágio.

Confira a seguir os argumentos contrários à ideia de pegar a ômicron por vontade própria.

Não é uma ideia nova

Pasternak lembra que, há algumas décadas, quando não existiam vacinas, os pais costumavam promover as chamadas “festas” do sarampo, da catapora ou da rubéola.

Em resumo, a ideia era que uma criança infectada transmitisse o vírus para as demais. Como essas doenças costumam ser mais leves na infância, a prática poderia criar, em tese, uma imunidade e evitar problemas maiores na adolescência ou na vida adulta.

“Essas festas eram extremamente arriscadas, porque não dá pra saber qual criança que pegar sarampo vai ter um quadro mais leve ou morrer”, explica.

“Mortes por sarampo nos primeiros anos de vida são raras, mas também acontecem”, aponta.

E esse mesmo raciocínio pode se aplicar à covid.

Covid não é sempre branda

A microbiologista entende que os indícios de que a ômicron causa uma infecção mais leve ainda são muito iniciais.

“Esses estudos foram feitos em animais e não podemos transpor essas informações para seres humanos”, diz.

“O que vemos na prática até agora é que, numa população de pessoas vacinadas, a ômicron causa uma doença menos grave. Já em não vacinados, a variante está internando e matando”, diferencia.

Ou seja, mesmo que passemos a observar menos hospitalizações, pelo avanço da vacinação e pelo espalhamento da ômicron, a covid ainda está bem longe de ser comparada a um resfriado simples.

Transtornos

Pra começar, mesmo a infecção aguda leve, que se arrasta por dias, tem consequências imediatas na vida das pessoas, como o afastamento do trabalho pelo período de recuperação.

Mas há efeitos de médio e longo prazo que também precisam ser colocados na balança.

Pasternak usa a própria experiência para mostrar como os efeitos dessa doença são complicados.

“Eu peguei covid há um mês, muito provavelmente foi pela variante ômicron. E até hoje não recuperei meu olfato”, relata.

“É óbvio que ficar sem sentir cheiros é bem melhor do que ser internada e intubada, mas eu preferiria que isso não tivesse acontecido”, complementa.

A microbiologista lembra que muitos pacientes apresentam queixas por tempo prolongado após a infecção.

“Tem gente que fica com dor nas articulações ou na cabeça por meses. São sequelas desagradáveis, mesmo que não causem hospitalização”, conta.

Transmissão

A covid chega a demorar dias para dar os primeiros sintomas — e alguns infectados sequer sentem algum incômodo.

Mesmo assim, esses indivíduos têm a capacidade de transmitir o vírus adiante se não tomarem alguns cuidados, como fazer isolamento, manter distanciamento físico e usar máscaras de qualidade, como a PFF2.

Ou seja: se você está vacinado, é mais jovem e não tem nenhuma comorbidade, o risco de complicações da covid é até mais baixo, mas nada impede de você passar a doença para alguém que vai desenvolver problemas mais sérios.

“Existe uma parcela da população que é mais vulnerável, como os idosos e as pessoas não vacinadas”, exemplifica Pasternak.

A especialista também destaca o cuidado com as crianças, uma das faixas etárias que, segundo alguns registros internacionais, estão sendo internadas com mais frequência agora nessa nova onda.

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