Quinta-feira, 18 de setembro de 2025
Por Redação do Jornal O Sul | 17 de setembro de 2025
A obesidade cresceu de forma acelerada entre crianças e adolescentes expostos ao marketing considerado “antiético” de junk food, ultrapassando a subnutrição e se tornando, pela primeira vez, a principal forma de desnutrição no mundo entre pessoas de 5 a 19 anos. O alerta foi feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
De acordo com relatório divulgado pela entidade, quase um em cada dez jovens nessa faixa etária deverá conviver com a doença crônica até 2025, impulsionada pela ampla disponibilidade de alimentos ultraprocessados, mesmo em países que ainda enfrentam a fome infantil.
“Hoje, quando falamos em desnutrição, não tratamos apenas de crianças abaixo do peso. Os ultraprocessados estão substituindo cada vez mais frutas, vegetais e proteínas, em um momento em que a nutrição é fundamental para o crescimento, o desenvolvimento cognitivo e a saúde mental”, afirmou a diretora-executiva do Unicef, Catherine Russell, durante a divulgação do estudo.
O levantamento mostra que a luta contra a fome tem apresentado avanços em algumas regiões. A proporção de jovens abaixo do peso caiu de 13% para 10% entre 2000 e 2022, considerando dados de 190 países. No mesmo período, porém, o número de pessoas com sobrepeso praticamente dobrou, passando de 194 milhões para 391 milhões.
O avanço é ainda mais expressivo no caso da obesidade, estágio mais grave do sobrepeso e associado a distúrbios metabólicos como diabetes, alguns tipos de câncer, ansiedade e depressão. Em 2022, 8% dos jovens entre 5 e 19 anos, ou 163 milhões de pessoas, eram obesos — contra 3% em 2000.
Fracasso da sociedade
Segundo o Unicef, o mundo atingiu um “ponto de virada histórico”: a prevalência global de obesidade nessa faixa etária (9,4%) superou a de baixo peso (9,2%). O relatório estima que 188 milhões de crianças e adolescentes já sejam obesos.
A entidade atribui o problema não a escolhas individuais das famílias, mas a estratégias comerciais agressivas. “As crianças estão sendo bombardeadas por marketing de alimentos não saudáveis, especialmente nas escolas, onde são expostas a bebidas açucaradas e salgadinhos”, explicou Katherine Shats, especialista jurídica em nutrição do Unicef.
Esses produtos, geralmente mais baratos que alimentos frescos, estão substituindo gradualmente frutas, vegetais e proteínas na dieta das famílias. Para a entidade, o problema não deve ser atribuído a crianças ou responsáveis, mas a uma “falha da sociedade em proteger os ambientes em que elas crescem”.
A organização também contesta a ideia de que a prática esportiva compense dietas de baixa qualidade. “É impossível ‘fugir’ das consequências para a saúde de uma alimentação rica em açúcares livres, amidos refinados, sal, gorduras trans e aditivos nocivos apenas com atividade física”, ressaltou Shats.
Medidas urgentes
Embora historicamente mais altos em países desenvolvidos, os índices de sobrepeso vêm crescendo em nações mais pobres. No Chile, 27% das pessoas de 5 a 19 anos estão acima do peso, enquanto nos Estados Unidos a taxa chega a 21%. Mas os aumentos mais expressivos ocorrem em ilhas do Pacífico, como Niue (38%) e Ilhas Cook (37%), onde produtos importados substituem alimentos tradicionais.
Em regiões afetadas por conflitos ou crises humanitárias, o Unicef denuncia que grandes empresas do setor aproveitam a situação para doar ultraprocessados como estratégia de marketing. “As crianças não têm acesso a alimentos nutritivos, mas são expostas a produtos prejudiciais em campanhas predatórias da indústria”, criticou Shats.
O Unicef defende medidas urgentes, como restrições à publicidade de junk food, taxação de bebidas açucaradas e alimentos ultraprocessados e políticas de incentivo à produção e ao consumo de produtos frescos.